O que custa é dar o primeiro passo!


Desde pequeno que me habituei a ver o meu pai correr... Quer fosse em montanha, em estrada ou mais recentemente em trilhos, sempre adorei vê-lo correr e ver a maneira como se ia superando! Tal como o via a competir, começei a gostar também eu de o fazer, desde a natação ao basquetebol, passando pelo futebol, tive o meu percurso em várias modalidades até que aos 18 anos, ao abandonar a "terra natal" fiquei sem desporto para praticar. Continuei a ter um gosto enorme por desporto, via tudo o que podia mas apesar de ter aulas de treino físico todos os dias faltava a prática regular de desporto (tendo em conta que o desporto tem por base um objetivo)... Nas provas do meu pai iam-me perguntando quando iria começar a correr também, dizia com timidez que tudo a seu tempo mas tinha alguma preguiça de começar. Para dizer a verdade, tinha preguiça mas também tinha medo, via o que os atletas iam vivendo e isso também me assustava.
Como já falei noutros posts, entre 2010 e 2014 o tempo para treinar também não era muito e todos estes motivos eram justificação mais que suficiente para não correr com a regularidade que participar em provas exige! Até ao momento em que me inscrevo numa prova de 100kms para a qual não estava minimamente preparado... Não é que o medo tivesse desaparecido, mas queria perceber aquilo que se sente numa prova destas! Percebi logo que se não fosse o meu pai a acompanhar-me durante as 18horas de prova, a única conclusão que tirava era como ir a uma prova de 100kms sem preparação e desistir aos 70. 


Estado "zombie" com que cheguei à meta
A partir desse momento disse que já chegava, que se queria participar em provas tinha que fazer o que os outros faziam, treinar! E é aqui que quero partilhar a minha experiência convosco, para poder levar aquelas pessoas que até têm vontade de começar mas falta aquele clique para arrancarem, a ouvirem esse mesmo clique... Aqui ficam as minhas "medidas":

1 - Assumi o meu compromisso perante alguém de quem gosto muito e a quem não quero desiludir nunca, ou seja, o meu pai... Disse-lhe que queria começar a treinar, para ele me fazer um plano de treinos que eu ia esforçar-me ao máximo para cumprir! Começou por ser uma brincadeira, ligava-lhe antes de ir treinar para saber o que fazia, mas como começou a ser frequente, fomos levando a coisa mais a sério e ainda hoje sei os treinos que tenho que fazer ao ligar-lhe ou antes do treino, ou no dia anterior.

2 - Criei um registo diário dos meus treinos... Peguei nos que o meu pai faz desde que o conheço, tentei adaptar a mim e criar um registo onde pudesse ir consultar tudo o que já tinha feito e onde fosse somando aquilo que ia alcançando! A cada semana de recordes ia falando com o meu pai sobre eles e queria sempre fazer mais para poder ter uma semana melhor que a anterior. Este registo foi sendo aperfeiçoado e ainda hoje registo todos os meus treinos numa folha de excel que vou imprimindo e guardando.

3 - Assumi o meu compromisso publicamente! Escrevi no facebook que ia treinar e ia falando das provas, criei também um blogue onde ia "desabafando" os meus feitos, quanto mais não fosse para me ir motivando a atingir novos patamares... Este projeto acabou por terminar, por falta de tempo e por sentir que aquele projeto já não fazia sentido, uma vez que o bichinho da corrida já tinha entrado e estava a começar a ganhar mais força, ficando só com o facebook para ir falando sobre as provas em que participava. Mais tarde surgiu este novo blogue com um conceito completamente diferente mas ainda assim gosto de voltar ao antigo e ver o que por lá escrevia.

4 - Tentei arranjar um grupo para correr. Aos fins de semana sabia que a ida à serra era certa com os caracóis. Durante a semana tentava juntar-me a pessoal do meu curso que também gostava de correr e mesmo quando não apetecia a um de nós, os outros acabavam por ir puxando por esse elemento (que ia rodando). Foi assim durante três meses... Mais para o final acabei por ficar sozinho nesta caminhada, até pelos pontos anteriores mas sem dúvida que as corridas com o Santana e o Nunes foram determinantes para o "clique" inicial. Já as corridas com os caracóis mantêm-se intactas e continua a ser um orgulho para mim correr com o resto dos caracóis e a quantidade de amizades fortes que lá se têm formentado!

1º aniversário do caracol, festejado com mais um treino antes do respetivo petisco

5 - Criei rotinas! Dizem que um acto que é repetido durante 21 dias ininterruptamente se torna um hábito... Não o fiz durante todos estes dias, mas a verdade é que fui criando o hábito de quando terminava o dia, sair para treinar. O que inicialmente era uma corrida para tirar a carga toda que tínhamos do dia a dia, virou rotina e depois ritual! Atualmente já corro poucas vezes ao fim do dia, mas foi nesse horário que ganhei o bichinho da corrida.

A verdade é que com a concretização destes 5 pontos surgiu algo que motiva ainda mais: Resultados! Não têm que ser resultados na classificação geral, pode ser apenas o facto de nos sentirmos bem durante uma prova, algo que nunca tinha acontecido antes. Depois deste "sentir bem", o treino continua e sabe sempre bem ir a uma prova e perceber que estamos melhores do que na corrida anterior e é a partir deste facto que se entra num ciclo vicioso... Treinar, ir a uma prova, ver os resultados, voltar a treinar, voltar a ir a uma prova e voltar a ver resultados! É um ciclo que dificilmente é quebrado é apenas abrandado pela quantidade de resultados que se vai obtendo... Quanto melhores estivermos, mais difícil é de evoluir!

Fica assim a minha "fórmula mágica" para começar a correr! A verdade é que a corrida, mais especificamente o trail mudou a minha vida para melhor e espero poder influenciar a nova entrada de atletas para o desporto em geral, e para esta modalidade em particular que tem tanto de belo como de duro.

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