10ª Paragem 2023/2024: Primeira vitória numa ultra, Primeiro controlo Anti Doping no Trail

Trail Linhas de Torres 100

Distância: 47.34km
Tempo: 3h56’57”
D+: 1628m
Classificação Geral: 1º Classificado 

Depois dos Trilhos dos Reis terem corrido tão bem, estava na hora de começar a fazer contas para o apuramento para a final do Campeonato Nacional de Ultra. Fazer 400 pontos da ATRP em duas provas era difícil, sem dúvida, mas, correndo tudo bem, era possível. Assim, num fim de semana marcado pela prova dos Abutres, restava-me ir tentar arranjar pontos a uma prova menos frequentada e que, por acaso, até tinha características que me poderiam favorecer. Não sabia quem lá poderia estar, nem saberia como o meu corpo reagiria a 47km com um desnível bem mais baixo do que o habitual, mas tive que arriscar. A preparação para a prova foi boa, consegui recuperar bem dos Reis, fiz uma boa semana pós ultra (na próxima semana falo do mês de Janeiro) e consegui chegar aos últimos três dias de treino com muito boas sensações. 

Chegado o dia da prova, acordar cedo, começar a rotina pré prova do João Barbosa, que tão bons resultados tem dado, e seguir para Sobral de Monte Agraço. Chegado lá, levantei o dorsal, voltei para o carro para não ficar demasiado frio (o dia foi quente, mas a madrugada não foi assim tão quente) e, a 10 minutos de iniciar a prova, dirigi-me à partida. Os 60 elementos que seguiam para a prova davam alguma moldura humana, mas eram as pessoas com trajes tradicionais "convocadas" pela organização que chamavam mais a atenção. De qualquer maneira, mesmo às 9h em ponto é dada a partida dos 45km do Trail das Linhas de Torres. 

Momentos antes da partida (Fonte: Bué das Fotos)

Em relação à prova, ao contrário do que aconteceu nos Trilhos dos Reis, o filme destes 45km é bastante monótono, mas vou tentar descrever um pouco do que se passou. Assim que foi dada a partida, saí para a frente do pelotão. Como não conhecia a maior parte dos elementos que estavam em prova comigo, segui para a frente, para perceber quem viria. O João Silva (conhecido de andanças profissionais, embora acompanhe o percurso dele no trail há muito tempo) veio logo comigo e, à distância, foi sempre ficando o Duarte Tereso. Se os primeiros 5kms eram essencialmente a subir, dos 5 aos 26km o percurso era, na sua maioria, a descer ou a direito. Como já não encontrava o Silva há muito tempo, acabámos por ir passando alguns quilómetros a conversar e, aos 10km, no primeiro abastecimento, foi a última vez que vimos o Duarte Tereso atrás de nós. 

Passagem após um dos abastecimentos (Fonte: Bué das Fotos)

A partir daqui e até aos 26kms o filme foi sempre sendo o mesmo. Zonas mais a direito puxava eu (só por uma vez ganhei 50m de vantagem, por volta dos 11km) e nas zonas mais complicadas passava o Silva para a frente. Sabíamos que o ritmo ia alto, comentámos isso várias vezes, mas isso também ajudava a que, dificilmente, alguém pudesse vir de trás para nos apanhar. Fizemos 13,3km na primeira hora de prova e 13km na segunda hora. Chegados aos 26km, entramos na zona com mais desnível: seguiam-se 8km com duas subidas, acumulando um total de 550m de D+ (praticamente 1/3 do que apanhámos em toda a prova). A primeira subida, feita praticamente sempre em trilhos corríveis, foi feita a alta intensidade. Ritmos sempre marcados pelo Silva, eu ia tentando perder o mínimo possível e, assim que estivesse mais ajustado ao ritmo imposto, apertava para diminuir o espaço perdido. Em dois dos três quilómetros (um com 8 e outro com 10% de inclinação) corremos a 6'13'' e 6'34'', sendo que ainda chegámos em boas condições ao topo. Parámos no abastecimento (o calor começava a fazer-se sentir com força e, embora não estivessem planeadas grandes paragens, acabei por encher flasks em todos os abastecimentos a partir dos 20km) para repor o necessário e saímos juntos para uma descida praticamente igual, em termos de desníveis, ao que tínhamos acabado de subir. A segunda subida destes 8km não era tão acentuada, era mais curta, mas, após o empeno que apanhámos antes, custou. Com um primeiro quilómetro com 12% de inclinação feito em 8', arrancámos para o segundo com 9% a 6'40'' e, já na fase final da subida, numa zona de falso plano positivo, consegui recuperar o que tinha perdido na fase mais dura da subida e acabámos por chegar juntos ao final da zona mais dura, feita sempre em bom ritmo. Iniciamos a descida correspondente, passamos numa aldeia onde, felizmente, estavam uns senhores no café a indicar o caminho, porque não havia fitas (já falamos sobre isso a seguir) e, na subida seguinte (bastante pequena), acabamos por desabafar que as forças já estavam a esgotar. A partir dali acabaria por ganhar o que "quebrasse" menos. Daqui até ao último abastecimento fui sempre ganhando algum espaço. Nunca deixei de ouvir o Silva atrás de mim, mas consegui ganhar espaço suficiente para, no abastecimento dos 39km, já ter um flask cheio e a preparar para encher o segundo quando ele entrou. Assim que fiquei pronto, segui o meu caminho, a um ritmo forte. 
A encher o flask no último abastecimento (Fonte: Fotos do Pio)

A partir deste momento foi andar forte e esperar que a meta chegasse antes de eu quebrar demasiado, o que acabou por se concretizar. No início da última subida da prova passei à maratona com 3h28'43'', o que é o meu segundo melhor tempo na distância, já que o melhor tempo foi registado no Trail de Abrantes, em 2018. Fica a questão de quanto valerei numa maratona de estrada guardada para mais tarde. Com esta boa passagem na maratona, foi seguir até à linha de chegada, que ainda consegui atingir antes das 4h de prova. 

Passagem na linha de chegada (Fonte: Bué das Fotos)

Em relação à minha prova, vim com o único objetivo de fazer pontos que chegassem para atingir os 400 pontos da ATRP, que me levariam a poder inscrever na final do Campeonato Nacional de Ultra, algo que acontecerá amanhã, durante a atualização de 01/02, portanto o objetivo foi completamente atingido. Relativamente à organização, tenho coisas boas a apontar e coisas a corrigir para futuras edições. 

Pontos fortes: Percurso rápido (se puderem evitar aqueles troços de lama que nada acrescentam à prova, melhor), com ótimas vistas ao longo do percurso (aquelas duas subidas têm ótimas vistas) e com abastecimentos com muita comida e pessoal com vontade de ajudar.

Pontos a melhorar: Em primeiro lugar e, principalmente, a sinalização. Tinha sido alertado para levar o GPX e foi a minha sorte, não me perdi vez nenhuma. Mas um cruzamento de caminhos não pode ser a zona com menos sinalização de fitas. Estas têm que ser reforçadas antes, para o atleta saber que vai virar e após, para o atleta saber que virou para o sítio certo; Em segundo, os abastecimentos não deviam ser em sítios fechados, fora do caminho... O abastecimento dos 20km obrigava mesmo a sair do caminho, para entrar na escola, dar o número, voltar a entrar no caminho e seguir a prova. Será mais fácil arranjarem um edifício que esteja no caminho do que obrigar um atleta que não tenha planeado parar a fazer um desvio (não foi o meu caso, porque iria sempre parar, mas pode ter sido o caso de outros).

Para finalizar, tinha que ser na prova em que tinha mais pressa de sair (a Inês competia em Pombal duas horas depois de eu chegar) que teria que haver o primeiro controlo de doping em provas de trail. Passadas 4h a correr a bons ritmos, o corpo tinha absorvido a maior parte da água que tinha para expelir. Resultado, as 2h que tinha para chegar a Pombal, serviram para forçar a bexiga a fazer o xixi e nada. Foram duas horas sem conseguir fazer o suficiente e, só mesmo depois de beber meia média é que consegui ir encher o que faltava do copo. Resumindo: estou 1000% de acordo com a existência de controlos no trail, podiam era ter escolhido uma prova em que tivesse menos pressa. Fora de brincadeiras, sejam bem vindos ao trail senhores da Autoridade Antidopagem de Portugal. Que por cá continuem porque são um elemento fundamental de qualquer modalidade. 
   




Comentários

  1. Boa recuperação, obrigado pelo teu testemunho ( testamento)🤪 gostei muito da descrição é a primeira vez que vejo comentar o controle anti- doping no trail estou completamente de acordo
    Devia de existir em todas as provas de trail 🖐

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    1. Em todas não digo mas, como no resto do atletismo, pelo menos em todos os Campeonatos Nacionais.
      Obrigado :)

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  2. Um excelente desafio/teste era o Povoação Trail.

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    1. Seria mesmo, já tenho a prova debaixo de olho mas, para já, não entra no orçamento, talvez para o ano.

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  3. Muitos parabéns pela excelente prova! É bom ver o caracol apressado de volta às lides. PS: Para fazer xixi é beber umas minis pretas ;)

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