14ª Paragem de 2016: Correr (mal) em casa

VII Trail do Almonda

Distância: 32.6kms
Tempo: 02:51:29
Classificação Geral: 4º Classificado
Classificação Escalão: 1º Classificado Sub23M

O trail do Almonda tem um significado especial para mim... É o trail da minha terra, desenrola-se no meu "laboratório" de treinos e por motivos profissionais não consegui estar presente nas primeiras 5 edições! O ano passado consegui estar presente e apesar do "pouco" treino (na altura achava que treinava muito) e da prova pertencer ao circuito de trail da ARTP e ao circuito do Calcário, fiz 12º da geral! O objetivo deste ano, já com mais quilómetros nas pernas e com mais provas rápidas passava por vencer a prova... Sabia que a concorrência não me ia facilitar a vida, sabia também que no último mês não tinha treinado tanto como devia (faltei a um treino por semana, pelo menos) mas ainda assim fui para a linha de partida com o pensamento de tentar ganhar. Preparei a prova como nunca, planeei o material que tinha que levar a pensar em todos os pormenores da prova, analisei todos os pontos em que ia passar para poder gerir a prova da melhor maneira, queria que nada pudesse falhar!

O dia que antecedeu a prova não foi perfeito, tal como tem acontecido nas últimas provas... Muito tempo de pé, pouco sono, alimentação longe da perfeita! Não eram as condições que queria mas eram as disponíveis e não ia ser por isso que ia baixar os objetivos. Apesar de tudo acordei a sentir o corpo em condições, não o sentia muito cansado e afinal de contas, eram "só" 32kms, ou pelo menos era o que eu pensava! Cheguei ao Pedrogão, alinhar com a equipa para a foto da praxe, foto com o mano mais velho (que ia à pequena) e siga para a linha de partida!

Equipa pronta para o Mini Trail e para o Trail do Almonda

Às 9h em ponto acaba a contagem decrescente e os cerca de 100 atletas que marcaram presença na prova grande saíam para 32kms na Serra D'Aire. A prova não saiu num ritmo exageradamente elevado, íamos a rolar à volta dos 4'/km e seguimos assim até à primeira ligeira inclinação... Na frente da prova seguia eu, o Pedro Ribeiro da minha equipa e um atleta que eu não conhecia! Na perseguição, logo atrás seguia o Sérgio Correia, da Zona Alta. Fizemos a primeira inclinação para entrarmos na zona não habitada da Serra e seguimos por um caminho que ia até à primeira subida (no veradeiro sentido da palavra) da prova (subida do Downhill)... O trio da frente manteve-se até 100mts antes da subida, altura em que o Pedro e o outro atleta seguiram a um ritmo mais forte e eu decidi seguir no meu, já conhecia a subida e sabia que apesar de não ser muito longa, não a podia fazer "à morte". 

Ligeiramente atrás do duo da frente

Grande parte da subida foi feita a correr, só metendo a passo nas zonas que eram mesmo impossíveis de fazer (devido à vegetação e às pedras do trilho). Quando atingimos o topo da subida a disposição da frente da prova era a mesma da entrada do trilho, o duo da frente levava-me um avanço de 50mts e o Sérgio vinha mais ou menos à mesma distância! Logo a seguir à subida do Downhill seguia-se uma descida ainda mais inclinada do que a subida anterior (descida dos medronheiros/caruma)... Tentei fazer a descida a um ritmo forte de maneira a tentar colar ao duo da frente na fase seguinte da prova, onde sabia que ia ser mais plana! A cerca de 100mts de acabar a descida, sinto a sapatilha muito larga, olhei, vi que estava desatada e pensei como era possível dois nós se desatarem numa sapatilha!!! O mal estava feito, parei para a atar, deixei de sequer ouvir o duo da frente e em menos de nada o Sérgio passa-me... Quando chego ao fim da descida, olho para a outra sapatilha, por descargo de consciência e vejo que nessa sapatilha também já só tinha um nó! Fiz um segundo nó e segui atrás do prejuízo. O caminho que se seguia até ao Vale da Serra era ligeiramente a subir, nada de extraordinário, mas a subir... Tive sempre contacto visual com o Sérgio até passar no primeiro abastecimento, ao lado da igreja.

A caminho do Vale da Serra, na perseguição ao Sérgio
Após o primeiro abastecimento entrávamos numa zona muito rolante, os ritmos voltaram aos da partida... Durante cerca de 3kms, 4min/km era o ritmo que me permitia não perder distância para o Sérgio e não deixar que ninguém se aproximasse! A prova não estava a ir de encontro com os meus objetivos mas também ainda não tínhamos chegado ao local das decisões, as duas principais subidas estavam entre o primeiro e o terceiro abastecimento e ia tentar diminuir a vantagem... Após uns quilómetros a rolar, quando passávamos por baixo da A23, o percurso começava a inclinar novamente, era o início da primeira grande subida! O início era pouco inclinado, permitia correr mas apesar disso o corpo não estava a deixar manter a velocidade, as pernas pareciam que estavam cansadas e o espaço entre mim e o Sérgio estava a aumentar! Quando cheguei ao segundo abastecimento, após a passagem por cima da A23 (a meio da tal primeira subida inclinada), já não via o Sérgio de todo! Aproveitei para encher os flasks de água (o dia estava a ficar quente) e segui para a fase mais complicada da subida.

Saída do segundo abastecimento


A partir deste ponto a subida ficava mais dura... Maior inclinação, um single track que por vezes tinha a vegetação alta e o desgaste de já vir a subir à cerca de três quilómetros! Fiz praticamente a subida toda a correr até chegar a um muro, onde virávamos à esquerda e que marcava o início da descida até ao Vale Alto, local da principal subida da prova! A descida foi feita a um ritmo controlado, não queria chegar à subida principal sem forças por ter feito a descida a abrir... Com cerca de metade da prova, a segunda maior subida da prova estava feita e a maior estava "mesmo à porta"! Tinha que dar tudo ali, já conhecia a subida e sabia que era muito dura, 1.5kms com 230mts de desnível positivo deixam mossa a quem comece com demasiada vontade! Assim que chegamos à entrada do Vale Alto iniciamos um percurso de 2kms em constante sobe e desce onde andamos praticamente no mesmo sítio até que entramos no verdadeiro trilho da Subida do Vale Alto... Iniciei como tinha pensado, a um ritmo calmo mas certo, que me permitisse fazer uma subida quase toda a correr! Quando cheguei a meio da subida, na fase com maior inclinação, as pernas voltaram a dar de si, tive que meter a passo, e apesar de conseguir meter a corrida de tempos a tempos, fiz cerca de 75% a andar até atingir a fase final, já com menor inclinação. Quando cheguei ao topo da subida (Delta Aire), onde se encontrava o terceiro abastecimento perguntei como estava a frente da corrida e se estava muito longe... Falaram-me que o terceiro já não era o Sérgio, que já tinha passado para segundo e que o Pedro se mantinha em primeiro! Disseram também que a diferença para o terceiro era de cerca de um minuto, ou seja, apesar de a subida não ter sido perfeita, estava a conseguir recuperar... Sabia que a inclinação positiva a partir de agora ia ser muito pouca e bastante desnível negativo; Normalmente isto não seriam boas noticias mas como não estava a ter as forças que queria, ia tentar aproveitar as descidas para recuperar tempo. Assim que me faço "à estrada", começo a ter pontadas no intestino! Não sei se foi alguma coisa que comi no dia, ou se foi de alguma coisa que comi no dia antes (a tal má alimentação pré prova), mas a "pit stop" parecia cada vez mais necessária... Ainda me aguentei 2.5kms mas tive mesmo que parar! Até ter que parar, o minuto que me tinham falado no terceiro abastecimento parecia difícil, mas possível, a partir do momento em que parei percebi que o terceiro lugar só estaria acessível se quem estivesse à frente conhecesse o Sr. da Marreta! Aqui tinha duas opções, ou confiava que isso ia acontecer e continuava a apertar ou metia um ritmo razoável, para não perder o 4º lugar, mas de maneira a não me cansar muito para a prova do próximo fim de semana a contar para o campeonato nacional de trail, o Trail das Poldras! Decidi escolher a segunda opção, tirei da cabeça a classificação e levei a prova como um treino rápido... Segui em direção à entrada do Vale Garcia onde íamos encontrar a última subida da Serra, a subida ao Delta Goucha Larga! Fiz a subida a um ritmo confortável e lá no topo lá estavam a equipa de apoio do Caracol Trail Team a puxar por nós! Daqui até chegar ao final do Trilho dos Dinossauros era sempre a descer.


Descida de acesso ao trilho dos dinossauros
A descida iniciava-se junto ao delta, num estradão largo, tal como mostra a foto. A inclinação não era muita e o piso permitia correr a ritmos elevados... Após cerca de um quilómetro, surgia o quarto abastecimento, aproveitei para encher os flasks pela última vez e segui viagem para o Trilho dos Dinossauros, batizado com este nome devido à vista (algo longínqua) sobre o Parque das Pegadas dos Dinossauros que existe no Bairro, perto de Fátima! Este trilho era maioritariamente composto por um single track com zonas com bastante inclinação acumuladas com zonas mais planas! Após a passagem pela Sauna do Javali e pela Cova do Morto (locais muito bonitos e com bastantes sombras o que foi ótimo porque o calor estava a apertar), chegávamos ao último abastecimento... Não parei, segui e durante uns tempos veio comigo o meu mano mais velho, que já tinha acabado a prova pequena e tinha vindo ver de mim. Fomos conversando, contei-lhe as minhas peripécias da prova, ele das dele e quando dei por mim já estava a meter ritmo muito fortes, tão fortes como no início da prova! Como já estava a acabar, deixei-me ir, até porque não sabia onde vinha o quinto classificado. Após os trilhos, uma pequena parte da prova em alcatrão, já dentro da aldeia do Pedrogão, local onde acabava a prova e onde tinha uma enorme comitiva do caracol à minha espera! 

Chegada à meta

1'30'' depois de ter chegado surge o Miguel Baptista, um velho conhecido dos trail que também não passou pelos melhores dias... Espero que já esteja tudo bem contigo, companheiro! No final foi dar os parabéns aos vencedores, ir dar um beijinho à namorada que estava à minha espera e aguardar pelos restantes caracóis! 


Apesar de ter posto como objetivo ganhar a prova, tenho perfeita consciência que nem sempre é possível obter o sucesso que queremos... Os restantes atletas foram mais fortes que eu e agora resta-me trabalhar para que no Trail das Poldras o corpo reaja de melhor maneira! Ainda assim, consegui obter o 1º lugar do escalão (naquela que foi a minha última prova como sub23) e contribuir para o primeiro lugar coletivo! 

Pódio coletivo

Pódio de Sub23







































Em relação à organização esteve bastante bem, trilhos muito bem marcados, muitos abastecimentos e com muito material, passagem por locais "emblemáticos" da nossa serra e no final a entrega de prémios foi bastante rápida! Talvez a passagem da prova pudesse ter tomado outros caminhos (até para evitar riscar tanto o "cromado", mas são decisões da organização e não foi isso que estragou o belo trabalho feito! Muitos parabéns!

Um agradecimento também à CaracolTV, assim como ao Bué da Fotos pelas fotografias da prova!

Boas corridas para todos!


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