4ª Paragem 2018: Que continuem as boas sensações

Trail de Poiares

Distância: 33.8kms
Tempo: 03:30:29
Classificação Geral: 14º Classificado
Classificação Escalão: 8º SenM

A minha experiência com o Trail de Poiares começou em 2016, ano em que por força das circunstâncias acabei por me dedicar ao Campeonato Nacional de Trail. Se comparar com o que fui fazendo até ao fim dessa época esse foi o último trail em que fiquei fora do top-10 e não foi propriamente por acaso... Além de a forma ainda estar a subir o Trail de Poiares era também uma daquelas provas em que não estava minimamente adaptado, principalmente no que a trilhos técnicos diz respeito e apesar de "fartinho" daquilo, tentei fazer a melhor prova possível. Em 2017 fui acompanhando de fora a acérrima luta pelo primeiro lugar entre 3 grandes atletas e em 2018 decidi voltar a esta prova por dois motivos: primeiro porque preciso de ranking para poder ir à final do Campeonato Nacional de Trail (no caso de poder ir), segundo porque a forma está claramente a subir e há muito que não me divertia tanto nos trilhos! Era sem dúvida hora de voltar!

As indicações dos Trilhos dos Reis eram boas e continuaram ao longo de todo o mês de Janeiro até à fase final de preparação de Poiares. Os treinos foram todos cumpridos nas últimas semanas e a "preparação" do corpo estava também a correr bem... Com a aproximação da prova os nervos iam aumentando ligeiramente! É estranho já ter feito tantas provas e ainda assim ficar com este nervoso miudinho mas a verdade é que me estava a sentir bem e queria voltar às boas prestações deixando-me ansioso para perceber como decorreria.

A véspera da prova foi meticulosamente preparada tendo batido tudo de encontro ao pretendido e cheguei ao fim do dia com tudo preparado para a viagem e para descansar em condições. No dia seguinte juntámos a comitiva de Caracóis no sítio do costume e seguimos viagem para Vila Nova de Poiares e aqui foi a primeira vez (de muitas) em que vimos o empenho da organização. Bastava seguir o guia do atleta e encontrávamos um grande número de lugares de estacionamento junto da zona de partida. Ainda chegámos a tempo de ver a partida da prova pequena e de seguida fomos ver dos nossos dorsais e preparar a prova. 10' antes do início os atletas foram chamados para o Controlo 0 que foi mais um "lembrete" da organização para os atletas e após ouvirmos umas breves palavras sobre o estado do piso e das marcações e após a contagem de 10 até 0, iniciámos a edição de 2018 do Trail de Poiares. 

Após o controlo 0, eu e o Pedro Ribeiro a aguardar pela partida

O início da prova era feito em alcatrão até entrarmos nos trilhos propriamente ditos... Enquanto que no alcatrão seguíamos a um ritmo a rondar os 3'30''/km, assim que entrámos nos trilhos optei por assumir a "frente" da prova e seguir a um ritmo relativamente forte! Foi assim entre o 1º e o 3º quilómetro, ia olhando para trás para ver quem vinha e parecia que não havia muita gente a perder espaço. Aos 3kms, numa subida que iria dar a uma aldeia, mesmo sem abrandar o ritmo, sou ultrapassado por alguns atletas, facto que se vai repetindo até passarem cerca de 12 atletas por mim mas que acabam por não ganhar muito espaço. Chegamos aos 5kms e o primeiro está em linha de vista com o 15º... Para mim, isto era uma novidade, normalmente formam-se grupos no trail mas nunca me tinha acontecido um grupo ter tantos elementos já com 5kms de prova. Perto dos 6kms encontrava-se o primeiro abastecimento... A chuva parecia estar a dar tréguas aos atletas, coisa que não parecia muito provável na partida e acabei por tirar o impermeável e seguir só de t-shirt e luvas, e foi a melhor opção que tomei. Continuei ao meu ritmo, um ritmo que considerava elevado mas a tentativa de não perder mais lugares estava a revelar-se infrutífera. 

A partir deste abastecimento acabamos por entrar na zona da Serra propriamente dita! Uma zona com muitos caminhos principais mas que também tem muitos trilhos a unir esses caminhos... E a prova desenrolava-se maioritariamente nos Single Tracks. Aos 10kms tinha 51'40'' de prova e o D+ ia já perto dos 500mts, o que indicia bem a dificuldade e a velocidade da prova! É entre os 10kms e os 20kms que a prova começa a mudar e por vários motivos: primeiro era aqui que atingíamos a metade da prova, quem tivesse gerido mal iria pagar a fatura na segunda metade; segundo esta era a zona com mais desnível, tinha duas das três subidas mais longas; terceiro, como tudo o que sobe, desce, as descidas revelavam-se cada vez mais técnicas, tendo já algumas zonas perto de linhas de água onde a tecnicidade se revalava maior. Tentei aproveitar as fases a subir para recuperar em relação aos atletas que iam à minha frente e tentei perder o mínimo possível a descer e só a partir dos 15kms me pareceu que pararam de passar atletas. Esse ponto coincidiu com a subida mais dura da prova onde estava situado o segundo abastecimento! Comecei a ouvir o filhote do Pedro a chamar por mim, e parecendo que não, dá logo outro alento, ouvir uma criança a chamar por nós... Assim que cheguei ao abastecimento troquei de flasks, disse ao meu pai que me estava a sentir bem e nem deixei uma resposta maior do que "ainda falta metade da prova". Estava efetivamente a sentir-me bem e a subida só veio comprovar isso, estava com força suficiente para fazer praticamente toda a subida a correr e até nas descidas estava a arriscar muito mais do que o normal... Passei aos 18.5kms com 1h47' em 23º da Geral, um lugar muito longe daquilo que pretendia mas tal como tenho vindo a dizer, estava mesmo a dar o meu melhor! 

Chegada ao segundo abastecimento, com o pequeno na "perseguição" 

Os 4.5kms que se seguiam a este controlo não tinham muito que saber... As duas maiores descidas da prova e a segunda maior subida! Estava na altura de dar tudo o que tinha, o pessoal da frente não podia ir assim tão longe e tinha que aproveitar os quilómetros que andava a meter para melhorar na segunda metade. Na primeira descida consegui não ser apanhado por nenhum atleta que viesse de trás e ainda a subida não ia a meio, apanho um dos atletas que seguia à minha frente. Consigo aproximar-e ultrapassar logo e no início da segunda descida, passo o segundo atleta. Parecia que finalmente as coisas estavam a começar a entrar no caminho certo e só uma zona mais técnica me impediu de fazer a minha progressão normal... O segundo atleta que tinha acabado de passar acaba por passar novamente mas consigo minimizar muito e assim que chegamos ao fim da descida consigo reaproximar-me e ultrapassar ainda antes do penúltimo abastecimento. Olhei para o relógio e segundo os 1600mts de D+ anunciados faltavam cerca de 270. Pareceu-me pouco para o que tinha visto no gráfico mas logo veríamos mais à frente. Chego ao abastecimento e como estava nesta fase crescente nem digo nada ao meu pai, queria era arrancar dali o mais rápido possível e recuperar o que ainda fosse possível recuperar... Faço a zona plana logo a seguir ao abastecimento a ritmos a rondar os 4'/km e assim que o trilho volta a inclinar vejo mais dois atletas à minha frente! Consigo aproximar-me e passar rápido. Estava nesta altura no 19º lugar!

Momentos antes do 3º abastecimeto

A fase final da prova, a que teoricamente tinha menos desnível e consequentemente seria mais fácil tornou-se a mais tormentosa... Os trilhos iam serpenteando uma ribeira e sempre num sobe e desce constante que nos obrigava a movimentos muito amplos das pernas! Opto por tomar o gel de reserva que levava na mochila para evitar potenciais caimbras que me pudessem atrapalhar o caminho... Apesar desta ser a fase mais técnica, a disponibilidade física ainda era alguma e vou conseguindo passar alguns atletas! No último abastecimento passo pelo Gomes que tinha parado no abastecimento e vejo o Marcolino Veríssimo na subida imediatamente a seguir... Consigo ultrapassar mas assim que o terreno voltou a descer e numa das zonas mais técnicas do percurso sou ultrapassado novamente! Era a segunda vez que isto estava a acontecer na segunda metade e tinha que ir atrás do prejuízo, tal como na primeira... Tentei arriscar ao máximo sabendo que o discernimento não era o maior (e que na cabeça ainda estavam as duas quedas que dei no percurso). Consegui não perder muito tempo e assim que o terreno voltou a ficar plano apanho novamente o Marcolino e sigo a bom ritmo até à meta! A partir dos 31kms o terreno ficou plano e de fácil progressão e ainda bem porque a fase técnica estava a aproximar cada vez mais a possibilidade das caimbras. Felizmente que consegui passar incólume e nos últimos 2kms andei a maior parte do tempo abaixo dos 4'30''/km, tendo conseguido manter o 14º lugar da geral. 

Momentos antes da chegada

Melhor que o 14º lugar, que tendo em conta os atletas presentes não deixa de ser um bom resultado, o melhor que tirei da prova foi a sensação de não ter quebrado na segunda metade da prova, de ter conseguido manter sempre bons ritmos a subir e acima de tudo, de ter conseguido minimizar muito as minhas limitações técnicas a descer... Dei por mim em certas alturas do percurso a divertir-me a descer, coisa que não era muito habitual! Talvez por isso hoje esteja com uma dor de braços enorme, é que todas as árvores serviam de bengala a subir e de amortecedor a descer! As sensações continuam a ser boas e agora resta treinar para o tal objetivo intermédio que falei no último post.

Em relação à organização, só tenho a dizer bem... Um trabalho enorme na abertura de trilhos, preocupação com aspetos importantes para os atletas como a segurança, os banhos quentes, o estacionamento e até o almoço funcionou sem demoras dando aos atletas tudo o que precisam para recuperar do forte empeno que tinham apanhado na prova! Muito obrigado por tudo!

Comentários

  1. Prova do caraças, parabéns! Incrível o ritmo que vocês metem em terrenos destes..

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    Respostas
    1. Muito obrigado Filipe... Acredita que também foi incrível para mim, consegui andar muito melhor do que estava à espera para este terreno :)
      Parabéns pela tua prova e pelo texto :)
      Abraço!

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