1ª Paragem 2016: Trail Centro Vincentino da Serra

Quando as coisas correm bem, tudo sai, as memórias são as primeiras a aparecer na cabeça e as palavras aparecem logo associadas a essas memórias, mas quando as coisas correm menos bem, o cérebro parece fazer um esforço para mandar as imagens para os confins do baú das memórias e não lhes quer mais tocar.

Antes de começar a desenterrar as memórias gostava de esclarecer uma coisa: Falhei! Falhei comigo próprio e com a minha equipa! Falhei!


Trail Centro Vincentino da Serra

Distância: 41.32kms
Tempo: 04:46:00
Classificação Geral: 24º Classificado
Classificação Escalão: 13º SenM

Durante a semana que antecedeu esta prova, apesar de ter treinado todos os dias, senti sempre uma dor nas pernas que ora saltava da coxa esquerda para o gémeo esquerdo, como de repente estava na coxa direita e saltava para o gémeo direito. O corpo parecia recusar-se a estar bem, e parecia que queria mais puxar do que avançar. Não sei a que se deveu esta semana e talvez por isso tentei ignorar a dor e no domingo de madrugada segui com o resto da equipa para Portalegre, local onde comecaria a primeira prova do Campeonato de Trail da ATRP. Momentos antes da partida, disse ao meu mano mais velho que a semana não tinha sido a melhor, que aquele não ia ser o meu dia, mas que ainda assim, ia dar o meu melhor e rezar para que aqueles sentimentos negativos não influenciassem negativamente a prova! Dentro do recinto onde mais tarde cruzaria a meta ouvimos um breve discurso e seguimos para o local de partida.



Linha de partida do TCVS

Poucos minutos passavam das 9h e foi dada a buzina de partida. Saí na linha da frente, sabia que a prova ia ter muita gente forte e não queria perder o primeiro comboio. A prova começava a subir, e apesar de o ritmo ir elevado, não ia exagerado para um início de prova. Um quilómetro de prova e senti o primeiro sinal que o que previa, não ser o meu dia, era mesmo verdade. Íamos a rondar os 4min/km (numa zona plana) e eu não me estava a sentir confortável... Um ritmo que seria acessível para quem ainda nem 2kms tinha e eu já estava a ter dificuldades! Apesar de tudo, não queria deitar tudo a perder, forcei o corpo e tentei ir sempre no limite, fosse ele qual fosse. Primeira subida (inclinada mas não muito longa) e começam a passar atletas por mim, rapidamente saio do top 15... O Marco Lopes da minha equipa também passa e digo-lhe para não esperar por mim, não era uma boa companhia e ele seguiu. A prova ficava a direito após uma pequena descida algo técnica e consigo minimizar perdas, meto um ritmo que não era assim tão mau, mantenho a distância para quem vai à frente, o meu problema continuava a ser a falta de à vontade com o corpo. O Marco acabou por ficar para trás também para não "abusar" na velocidade, e volto a apanhá-lo. Seguimos os dois à conversa e pouco antes do primeiro abastecimento aparece o Pedro Ribeiro que estava a fazer a sua primeira prova de 42kms em trail. 


Trio de caracóis no primeiro abastecimento

O trio estava formado, o mal estar continuava mas agora que tinha arranjado um grupo queria forçar ainda mais para ver se conseguia recuperar aquilo que tinha perdido. Passámos o 1º abastecimento e estava tudo a entrar nos "eixos"... Ia na frente do grupo e quando vou a iniciar uma descida o pé esquerdo escorrega-me e vai embater diretamente numa pedra! Doeu-me, doeu-me bastante até e tive que parar ali durante uns segundos. O grupo onde ia seguiu e tentei ignorar a dor, meter o meu ritmo e voltar à prova. Quando voltei a correr ainda via o grupo ao longe e queria voltar a ele mas passado pouco mais de um quilómetro começou o meu "inferno", além da dor no joelho (era pequena, nunca meti em causa acabar a prova, mas era incómoda), iniciava-se uma fase muito técnica da prova. Passagens consecutivas pela ribeira, por baixo de troncos e por cima de raizes, troços em que era impossível de todo correr, pelo menos eu... Nesta fase sou apanhado pelo Pedro Ricardo, ele desenrasca-se muito melhor que eu a nível de percursos técnicos e ainda pensei que ele fosse ajudar, mas quando me apanhou disse logo que estava tão mal como eu! 



Fase técnica da prova, a passar dentro da ribeira de 50 em 50 metros


Apesar de tudo ainda fomos puxando um pelo outro, conseguimos voltar a correr após essa parte técnica e ora ia ele à frente quando era a descer, ora ia eu quando era a subir. Nestas mudanças constantes entre nós (após uma descida onde o Pedro me voltou a fugir) consegui meter um ritmo razoável numa nova subida, consegui finalmente ir apanhando atletas, até que cheguei ao grupo do Miguel Baptista, o vencedor do Estrela Grande Trail do ano passado, um grande senhor do trail que me deu o prazer da sua companhia durante uns kms. Acabei por apanhar o Marco Lopes e o Pedro Ricardo novamente, formámos um trio e aos poucos íamos levando a nossa prova para minimizar perdas. A equipa ainda importava e tínhamos que andar o melhor possível. 



Zona intermédia da prova (os danos no joelho são bem visíveis)

A partir deste momento tenho que admitir que não me lembro muito bem da prova, a coisa estava a correr mesmo mal e estava a ficar desanimado, corria só por correr, e a cada troço técnico, fosse ele a descer ou a subir ficava invariavelmente para trás, só conseguindo fazer uma mínima diferença a subir em zonas não técnicas... O click deu-se pouco antes dos 30kms! Não sei bem porquê, nem como mas o meu corpo ficou bem, voltei a sentir-me solto, conseguia seguir a um bom ritmo a direito, voltei a sentir-me confortável a 4:30min/km, algo que não sabia como era desde o início da prova. Nos trilhos mais técnicos tentava minimizar perdas e a verdade é que quem vinha atrás já não se estava a aproximar nesses troços. Pela primeira vez sentia-me forte e queria recuperar tudo aquilo que tinha perdido. Parti provavelmente fora do top 30 (num controlo intermédio, onde passei com 3h12' ia em 29º, e já estava numa fase de recuperação), o que fazia com que fosse impossível recuperar para o top 20, afinal de contas estava a lutar contra os melhores a nível nacional... Ainda assim parti decidido a fazer a diferença e a verdade é que até ao fim ainda consegui chegar na 24ª posição! Não é que este resultado tenha feito com que falhasse menos, mas ainda consegui chegar ao "bombom" final, consegui contribuir para um 3º lugar por equipas na 1ª prova do circuito nacional de trail da ATRP. 



Pórtico de chegada do TCVS

Caracol Trail Team no 3º lugar do pódio!


Não me restava mais nada senão celebrar com a restante equipa e treinar para a próxima prova! 31 de Janeiro estarei em Ourém para fazer novo teste à máquina, mas esta semana de treinos que passou já está a mostrar melhores sinais, vamos ver como será a preparação até ao final do mês.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

10ª Paragem 2023/2024: Primeira vitória numa ultra, Primeiro controlo Anti Doping no Trail

9ª Paragem 2023/2024: Ultra, porra!

4ª Paragem 2023/2024: Com um brilhozinho nos olhos!