Paragens do Pai Caracol: 100kms de Portugal

A veia literária do filho não podia vir do nada, como alguém um dia disse "Ele não pode sair às pedras da calçada" e desta vez, foi o pai que decidiu pôr essa veia em ação. Apesar de estar há uma semana para escrever sobre a minha última paragem, o G.P. de Constância, houve quem se apressasse a escrever um texto sobre a sua enorme prova e sobre tudo o que foi sentindo... Fica aqui o seu texto, não só como um testemunho da prova mas também como uma homenagem a este grande senhor que fez de mim quem eu sou hoje! Parabéns e obrigado por tudo!

Eram pouco mais de 14h quando saímos de casa e fomos apanhar o Marco Neves que também ia participar na prova, bem como o meu sobrinho Floriano que nos ia acompanhar. Rumámos então a Lousada fazendo uma pequena paragem para esticar as pernas numa área de serviço perto de Estarreja. Uns minutos antes das 18h estávamos no Complexo desportivo de Lousada esperando pela abertura do secretariado. Pouco depois tinha o dorsal na mão e fomos com o organizador Vitor Dias ver o espaço onde se podia trocar de roupa e em que zona poderia ficar a minha equipa de apoio, pormenor que para mim sempre foi um “pormaior”. Seguimos para a Quinta da Lourosa onde deixamos o Marco e fomos depois para Paços de Ferreira, para casa do meu irmão onde íamos pernoitar. O jantar foi uma massa com molho carbonara no Ferrara Plaza. Regressámos a casa e depois de preparar as coisas para o dia seguinte, cama com eles. Noite razoavelmente dormida e um pouco antes das 07h estava a tomar o pequeno-almoço (uma sandes de queijo e um Ice-tea foi tudo o que consegui ingerir pois de manhã cedo tenho alguma dificuldade de comer). Regresso a Lousada, apanhando o Marco pelo caminho e uns minutos antes das 09h estamos prontos na pista onde tiramos as fotos para a posteridade.

Momentos antes da partida dos 100kms de Portugal

Quando está toda a gente pronta o speaker anuncia que a prova irá ser atrasada 30m. Como estava frio recolhemos para dentro do complexo desportivo e aproveito para ler um dos jornais do dia que a organização estava a oferecer. 09h30m começa a grande aventura. Arranco num ritmo muito certinho e muito tranquilo e as primeiras voltas são feitas sem qualquer dificuldade de maior. Volta a volta ia dizendo à Joana e ao Floriano o que pretendia tomar como abastecimento na volta seguinte e quando lá chegava lá estavam os dois, com uma atitude extraordinariamente profissional, com tudo pronto e foi assim durante as 09 horas em que estive em prova, apesar do vento e da chuva!!! Por outro lado a minha “velha” companheira da vida e destas lides ia deambulando pelo percurso (muitas voltas deu ela ao circuito) sempre preocupada em saber como é que eu ia e dando-me o feed back do que se estava a passar em termos de apoio quer através das redes sociais quer através de telefonemas. Com uma equipa de apoio e com uns Amigos destes a minha responsabilidade ia aumentando, e eu gosto desse tipo de pressão emocional. 

A equipa técnica a prestar apoio volta após volta

Voltando à prova propriamente dita com pouco mais de 15 kms faço uma primeira paragem técnica para “verter águas”. Continuo num ritmo muito certinho e muito confortável e a distância da Maratona é atingida com 3h42m40s, o que me deixa muito contente pois o cansaço ainda não era muito e a marca era excelente. Começo a acreditar que podia ser finalmente o “meu dia” numa prova de 3 dígitos. Por volta dos 50 kms faço uma segunda paragem para necessidades fisiológicas e pouco depois ao passar mais uma vez na pista o speaker, que durante toda a prova foi dando informação dos atletas que iam passando quer em relação ao tempo de prova quer à classificação, diz o tempo que eu levava e de seguida analisa a minha prestação dizendo que estava a fazer uma grande gestão da prova pois tinha começado por volta da 20ª posição e que tinha vindo sempre a subir estando na altura na 8ª posição da geral e em 1ª do escalão M50. Não posso deixar de reconhecer que senti um pequeno arrepio com aquelas palavras e até me emocionei um pouco pela forma genuína com que foram ditas. Entretanto chegavam os 60 kms que fiz sem qualquer paragem e apesar de me sentir bem, decidi, por estratégia, começar a caminhar 20 segundos no final de cada uma das subidas. Dava uma muito ligeira quebra no tempo mas psicologicamente foi um grande tónico para o que ia faltando. Pouco depois dos 80 kms, numa altura em que apesar de me continuar a sentir bem, o cansaço já dava alguns sinais começa a chuva a querer cair com mais intensidade o que me deixa preocupado pois a juntar ao frio que se fazia sentir podia complicar o final do “sonho” que estava a viver. Mas não, volta a volta aproximava-me do fim e 9h09m40s depois cruzo a meta com uma grande sensação de que tinha sido o dia perfeito.

Última passagem no pórtico

Mal cruzo a meta a primeira coisa que faço é dar um grande e sentido abraço a cada um dos elementos da minha equipa de apoio: a minha filha Joana Godinho, o meu sobrinho Floriano Neto e a minha “velha” Rosário Godinho, vocês foram extraordinários!!! De seguida pensei no meu filho Tiago que em casa ia vivendo intensamente tudo quanto se estava a passar e depois pensei nos meus Amigos que vibraram com este meu desempenho e que tenho a certeza estavam a torcer por mim. Um Obrigado do fundo do coração para todos, acreditem que contribuíram e muito para este resultado.

Pódio M50

Quanto à organização só tenho a dizer bem, foram 5 estrelas, grande empenho e dedicação da parte de todos e uma disponibilidade total. Gostava ainda de realçar o grande ambiente por parte dos participantes onde a grande maioria tinha sempre uma palavra de incentivo ou um sorriso quando nos cruzávamos ao longo do circuito; Obrigado a todos por essa forma de encarar o desporto.
Alguns dados estatísticos da minha prova: Volta mais rápida – 11m57s (2ª) Volta mais lenta – 13m56s (32ª) 1 volta na casa dos 11 minutos 24 voltas na casa dos 12 minutos 18 voltas na casa dos 13 minutos 3h42m40s à maratona 9h09m40s no final dos 100 kms 5º classificado na geral 1º classificado no escalão M50

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