9ª Paragem 2017: É oficial: Cheguei ao meu limite numa prova!

Território Circuito Centro - Vila de Rei

Tempo: 05:06:04
Distância: 50.38kms
Classificação Geral: 18º Classificado
Classificação Escalão: 15º SenM

Quando há uns meses se soube que a prova de Vila de Rei iria apurar o último elemento para os Campeonatos do Mundo de Trail de 2017 muitos planos de treino foram alterados para que o "pico de forma" fosse apontado para esta data e o meu não foi diferente. Desde Dezembro que queria trabalhar para esta prova... Mesmo sabendo que o meu ano e meio de treino "a sério" dificilmente me permitiriam grandes aspirações queria estar lá e ver o que poderia fazer contra os melhores do nosso país. Em Dezembro tive a entorse, o que veio complicar ainda mais estas contas mas era altura de tudo, menos de arranjar desculpas! Fui atrás do tempo perdido, fiz os dois meses mais intensos a nível de treino que já tinha feito na minha vida, fui melhorando a condição física e cheguei ao Sicó, o último teste à máquina, com a nítida sensação que tinha feito tudo o que podia. Passei o teste com um bom resultado, um 7º lugar a 10' do segundo lugar diziam-me que estava bem e pronto para atacar a restante preparação para Vila de Rei. No fim de semana seguinte fui ao Off Road da Barreira para dar mais um pouco de competitividade às pernas e nesta última semana restava descansar e esperar que o corpo reagisse como queria no dia da prova.

O dia anterior foi basicamente para me alimentar, hidratar e descansar... Queria que tudo fosse perfeito, não queria ter desculpas para dar só queria correr e correr bem! No dia da prova juntei-me com os restantes caracóis e com a equipa de apoio e seguimos para uma viagem rápida até Vila de Rei. Quando chegamos o nervosismo era bem visível, estava elétrico, só queria que a hora da partida chegasse o mais rápido possível! Equipei-me para a prova, fomos para a zona de partida, cumprimentei a malta "do costume" nas provas do Campeonato Nacional de Ultra Trail e fomos para o controlo 0 da prova.

Equipa pronta para o Trail Longo
Já dentro do controlo ouvimos umas últimas palavras do organizador da prova e após contagem decrescente de 10 a 0 do Joca (a prova ganha logo outra importância contigo a "narrar", parabéns por todo o trabalho que tens feito pelo Trail nacional), seguimos para a 3ª prova "Series 150" do Campeonato. A parte inicial era indicada por uma carrinha que ia impondo o ritmo e logo nos primeiros metros foi-se formando um grupo com cerca de 15 atletas que poderiam lutar pela prova. Tentei-me manter neste grupo o máximo tempo possível... Logo após o alcatrão (800mts) entrámos numa zona de trilhos à qual se seguia um single track algo duro, no qual se iniciava a subida ao Centro Geodésico de Portugal. Esta subida apesar de longa tinha o seu "ponto alto" nos últimos 500mts, numa zona com um grande declive onde tive mesmo que meter a passo e onde perdi o contacto para este grupo da frente. Não foi nada que me deixasse surpreendido, já no Sicó tinha sido assim que tinha perdido o contacto para o grupo da frente e restava seguir na perseguição
Após a subida ao Centro Geodésico de Portugal, logo atrás do Tiago Teixeira
Assim que terminávamos a subida entrávamos numa zona de ligação para um trilho estreito, com algum desnível negativo, não exageradamente técnico mas que exigia atenção. Segui a uma velocidade alta mas mesmo assim havia atletas a passarem por mim... Tal como em Sicó não entrei em pânico, ainda haveria muita prova para recuperar e acima de tudo, uma parte final de prova muito difícil que exigia uma gestão ainda mais inteligente do que o normal! Cheguei ao final da descida e iniciámos nova subida. Esta subida era feita por patamares, uns mais inclinados que outros mas que acabava por se prolongar bastante... Fui sempre vendo um grupo que se ia formando à minha frente (os que foram passando durante a descida) mas como o ritmo ia alto não consegui colar. Pouco antes de chegar à fase mais difícil da subida, a última, fui apanhado pelo Pedro Ribeiro e seguimos juntos. O culminar da subida encontrava-se em novo marco geodésico em que quase tínhamos que escalar para o alcançar e depois descíamos umas escadas para iniciar a descida que iria levar ao 1º abastecimento da prova. Fizemos esta descida a uma velocidade alta e fomos diminuindo a vantagem para esse grupo da frente tendo ainda apanhado um atleta do mesmo.

Chegada ao primeiro abastecimento com o Pedro Ribeiro
Voltamos a seguir a bom ritmo e entramos numa zona que pelo gráfico parece uma zona acessível mas que no terreno se revelou ser exatamente o oposto... Ao longo dos quilómetros que se seguiam íamos correndo ao lado de um ribeiro que não levando muita água, obrigava a uma atenção redobrada para não escorregar nas pedras que o ladeavam. Fizemos esta parte da prova praticamente sozinhos, não víamos ninguém à frente nem atrás mas esta era também a fase em que menos tínhamos que arriscar... Uma queda ou um colocar mal o pé poderia fazer com que fosse o fim da prova e ainda havia tanto para correr! 

Eu e o Pedro Ribeiro na zona junto ao ribeiro
Após algumas travessias do ribeiro seguíamos por uma subida que não tinha qualquer trilho definido, apenas as fitas indicavam o caminho, onde tínhamos que andar a furar a vegetação e aí fomos apanhados por um grupo de três elementos que nos foram acompanhando no resto da subida que iria levar ao segundo abastecimento, por volta do quilómetro 24. Foi durante esta subida que o Pedro bateu com o pé numa pedra e ficou ligeiramente para trás... Acabei por seguir e nunca mais o vi, soube depois que tinha desistido, ainda há muitas provas para fazer, companheiro! Mais uma vez a parte final da subida era muito inclinada, acabei por perder dois lugares ao longo desta para os tais atletas que se chegaram na fase final do ribeiro mas como a aproximação ao abastecimento era feita numa zona mais plana acabei por voltar a passar e seguir... Mesmo antes de chegar ao abastecimento vejo o Tiago Teixeira do EDV e o Luís Mota. Tal como fiz nos restantes abastecimento nem parei, troquei de flasks e segui logo caminho tendo o Tiago parado no abastecimento e apanhei o Mota logo nos metros seguintes. 

Foi a partir daqui que a prova entrava num tipo de terreno diferente dos anteriores... As subidas eram menos inclinadas e mais curtas e as descidas também eram semelhantes. Foi também nesta altura em que dou o maior pulo na classificação geral, sendo que consegui ir ganhando estes lugares nas fases mais a direito ou a subir, perdendo muito ligeiramente algum desse "avanço" nas descidas. Inicialmente apanhei o Marcolino Veríssimo e o Amândio Antunes e já numa subida mais perto do terceiro abastecimento consegui apanhar o Nuno Torres. Foi nesta altura também que chegámos à zona de acesso ao Penedo Furado tendo formado um grupo de três atletas com o Nuno e com o Mota. Subimos e descemos as várias escadarias daquele troço e chegamos ao terceiro abastecimento, onde apareceu logo o Amândio. Voltei a não parar no abastecimento e segui logo viagem sozinho por um trilho novamente ao lado de um ribeiro e segui para a subida que marcou a minha prova... Uma subida que deve ter sido aberta propositadamente para a prova pela maneira como estava aberto e que tinha uma inclinação brutal! Inicialmente ainda vi o Rafael Cruz e tentei chegar-me a ele mas as forças começaram a falhar, tendo não só perdido o Rafael de vista como também fui passado pelo Amândio. Tentei minimizar os danos causados, mantive uma passada o mais forte que consegui e lá cheguei ao topo da subida sem ser ultrapassado por mais ninguém. Após esta enorme subida tentei voltar aos ritmos anteriores, os tais que me tinham permitido fazer a recuperação mas as forças já não eram as mesmas, ainda dava para os 4'30''/km a descer e para ritmos a rondar os 5'/km em plano e nas subidas com pouca inclinação tendo conseguido passar o Vitor Cordeiro e novamente o Amândio. Por volta dos 44kms vem de trás o Luís Semedo, tinha-o visto no terceiro abastecimento parado mas lá regressou e passou a grande ritmo... Ofereceu-me água (vinha desde os 41kms sem água pelo calor que se fazia sentir e pelo cansaço que o corpo já levava), obrigado pelo gesto, ainda disse para o acompanhar mas ele ia com "pedalada" demais para o meu estado. Disse-lhe para seguir e tentei manter o meu ritmo... Ia olhando para trás para me certificar que não vinha ninguém de trás e apesar de fazer as subidas todas a passo, conseguia ir correndo a direito e a descer. Vou-me aproximando dos 47.5kms, altura do 4º abastecimento e já só penso em tentar chegar ao fim. 

O acesso ao ponto de abastecimento era feito por uma descida muito inclinada onde utilizei sempre a corda que lá estava para auxiliar. Quando lá cheguei estava a Filomena Cordeiro que me pergunta pelo Vitor e me auxilia a encher os flasks: Estava mesmo a entrar naquela fase em que nem pensar conseguia e duvido que conseguisse fazer esta tarefa sem auxílio... Muito obrigado pela ajuda. Assim que acabo de encher os flasks volta a aparecer o Amândio, seguimos os dois caminho e assim que chegamos à zona mais pedregosa passa-me e não tenho capacidade para seguir com ele. Estava completamente de rastos, tinha dado tudo de mim e já não estava sequer capaz de reagir... Ia lutando contra mim próprio para dar um passo a seguir ao outro e era com este lema que tentava acabar a subida da cascata. Quando finalmente passamos o túnel que marca o fim da zona mais inclinada da subida, volto a tentar correr mas logo aparece nova subida que dá acesso a Vila de Rei. O Amândio ia em linha de vista mas já muito longe, o Rui Miguel Pacheco, mesmo depois de ser apanhado pelo Amândio mete um ritmo que também não sou capaz de apanhar e quando olho para trás vejo o Paulo Lopes, velho conhecido das provas de trail... Meti como último objetivo da prova tentar não ser ultrapassado pelo Paulo! Faço um esforço hercúleo para voltar a correr abaixo de 5'/km e quem lá estava deve ter pensado que eu me ia desmontar todo, tal era a maneira estranha como ia correndo. Obrigado Paulo pelo "gesto"!

Esta foto diz tudo do estado do "animal"
Quando terminei a prova, o resto da Caracolada foi ter comigo para falarem e ver como estava mas como um dia o Pedro Crispim me disse: A luz estava acesa mas não estava ninguém em casa... Foram 10' em que a minha única preocupação era voltar a pensar, queria ter controlo em mim e saber o que fazia porque estava completamente esgotado, sem força, sem raciocínio, sem nada! Aos poucos lá fui comendo e bebendo coca cola e o açucar foi fazendo efeito. Estava a voltar e aí o papel da minha irmã e da Marina foram importantíssimos, a minha irmã sempre a ir buscar comida e bebida e a Mariana a ouvir todas as bacuradas que devo ter dito naqueles minutos antes de voltar a mim! Foi sem dúvida a prova em que mais me custou terminar desde que treino a sério, levei o corpo ao limite e paguei a fatura por isso... Quais foram os motivos? Não sei, tentei sempre fazer uma prova consistente e forte mas aquela subida aos 36kms mandou-me as forças abaixo, daí para a frente a prova deixou de ser a mesma e aquela subida final acabou com o resto que ainda havia! De qualquer maneira fiquei feliz por ter dado tudo o que tinha e acima de tudo fiquei ainda mais motivado para treinar e para que este 18º lugar seja apenas um ponto de partida... Já agora, dar os parabéns ao Tiago Romão e ao David Quelhas, 4h15' neste percurso é algo de extraordinário e só prova os grande atletas que são! Parabéns também à Inês Marques por esta vitória e pela consequente ida à Seleção, é ótimo ver jovens valores a assumirem-se cedo e a marcar o caminho na nossa Seleção!

Quanto à organização, as marcações para mim estavam suficientes, e o percurso era espetacular... O que para mim se poderia melhorar era na "ajuda" dos elementos que se encontram nos abastecimentos, se não fosse a Filomena provavelmente ainda estaria a tentar encher os flasks no último abastecimento e embora fosse uma regra igual para todos, acho que quatro abastecimentos para uma prova destas é pouco. De qualquer maneira, parabéns por terem organizado mais um dia de festa para o Trail Nacional.

Ao fim do dia foi altura da Gala de entrega de prémios da ATRP mais uma vez brilhantemente narrada pelo Joca e após duas homenagens pertinentes e justas deu-se a entrega dos prémios relativos a 2016 onde subi ao pódio para receber o prémio de 3º SenM do Campeonato Nacional de Trail de 2016 e de 3ª Equipa com a restante Caracolada! Um grande momento para nós e que embeleza ainda mais a nossa "montra" de prémios... Agora temos que continuar a trabalhar para dar continuidade a este trabalho que temos vindo a fazer! Obrigado a todos pelos momentos intensos que já vivemos e parabéns ao Gil Vicente e ao Francisco Gaio pelos prémios individuais e à restante equipa por ter contribuído para a classificação coletiva e para que todo este espírito familiar se mantenha!

Prémio 3º Classificado SenM do Campeonato Nacional de Trail 2016

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