10ª Paragem 2018: A Estrela nunca desilude!

Estrela Taurus 2018

Distância: 24.81kms
Tempo: 02:13:25
Classificação Geral: 4º Classificado
Classificação Escalão: 4º SenM

A minha relação com a Serra da Estrela tem praticamente tantos anos quantos a minha memória é capaz de recordar... Desde "criança de colo" que vou à Serra Rainha do nosso Portugal! Sempre caminhei por lá, fiz "sku" por lá e apoiei o meu pai por lá! A conversão das horas que por lá passei provavelmente já se traduz em dias em que passeei pelas Penhas Douradas, pelo Viveiro das Trutas, pelo Poço do Inferno, pelo Vale Glaciar, pelo Covão da Ametade e em menor número de vezes, pela Torre, o ponto mais alto de Portugal Continental. A quantidade de momentos daqui guardados acabou por se transformar em paixão por esta enorme e bela serra e já há vários anos que a visito pelo menos uma vez por ano! 

Nos últimos três anos tive a sorte de a visitar num dos melhores eventos de Portugal, uma prova de Trail que nos leva aos pontos mais emblemáticos desta bela Serra e que nos dá alguns dos melhores percursos que se fazem pelo nosso canto à beira mar plantado! Não me levem a mal as pessoas que gostam dos trails extreme e que adoram trilhos super técnicos mas é que eu adoro correr, adoro poder escolher os momentos em que corro e os que ando em vez de ser o trilho a escolher por mim, adoro a sensação de quem tiver mais pernas, ganha, ponto final! Na minha primeira participação, em 2016, experimentei a prova dos 46kms, uma prova muito dura mas onde me senti sempre muito bem, levando-me a um quarto lugar atrás de um atleta da equipa "salomon" internacional, do Guilherme Lourenço e do Telmo Veloso. Em 2017 decidi tornar esta prova como um objetivo e voltei para os 109kms! Um percurso duríssimo que me levou verdadeiramente ao limite... Ainda tenho guardado na memória aquela saída dos 90kms onde estava completamente estoirado e só me apetecia ficar por lá. Este ano, depois de ter decidido fazer o MIUT, só me sobrava a prova dos 26kms, uma prova que faria parte do Campeonato Nacional de Trail e onde poderia "fechar" a minha qualificação para a final em Sintra, onde ainda não sei se poderei participar mas que pelo sim, pelo não, queria ter o ranking necessário. 

Foto de 2017, a chegar à Torre
Sabia que este era o meu "habitat natural", que tinha todas as condições de fazer uma boa prova e dediquei-me a ela como se de um objetivo principal se tratasse... Estudei o percurso e preparei todo o material com tempo para que nada me pudesse estorvar. Seguimos viagem ainda na sexta para o Fundão, local onde iríamos passar a noite e no sábado de manhã seguiríamos para Manteigas, o local da partida de todas as provas do Estrela Grande Trail. A noite foi praticamente perfeita, conversar com amigos tranquilamente, reviver algumas memórias e depois descansar convenientemente. Já no dia da prova, à chegada a Manteigas era hora de ir equipar, fazer nova verificação de material com o meu pai e seguir para a linha de partida! Lá revi vários amigos, desde o Mestre Natividade, ao Telmo Dourado, ao José Sequeira e a Carla Santos... A verdade é que a Estrela tem este condão de atrair todos os amantes da montanha em Portugal! Umas fotos com o Pedro Fernandes e depois de uma breves palavras do mentor da prova, Armando Teixeira, seguimos para estes 26kms com 1200 D+.

Foto à partida com o mestre Natividade, o meu Pai e eu, organização, equipa de apoio e atleta, respetivamente

A parte inicial da prova desenrolava-se pela subida que já fiz mais vezes naquela serra! A subida da caminhada do Manteigas-Penhas Douradas (uma prova de estrada onde o meu pai participou mais de 20 vezes e onde participava quase todos os anos na caminhada)... Uma subida com mais de 10% de inclinação e que se estende durante mais de 6kms! O ritmo inicial foi imposto pelo Egdar Resende, um ritmo forte mas controlado onde permitiu fazer logo de início uma separação entre os atletas. Este ritmo durou cerca de 1km altura em que o Guilherme Lourenço passa e mete o ritmo dele, ritmo esse que era muito mais forte do que aquele que estava a ser imposto e as diferenças começam a ficar mais vincadas! Logo atrás do Guilherme segue o Diogo Baena que acaba por ganhar algum avanço ao Edgar. Eu fico para trás junto com o Frederico Cerdeira e pouco depois passa-nos o Hélio Fumo a filmar (a descontração era tanta que eu nem percebi que estava em prova). O Fumo acabou por passar logo e eu aproveitei o aumentar de ritmo para ganhar algum avanço ao Fred. Naquela altura encontrava-me em 5º lugar da geral e embora fosse sempre a ver o Edgar, perdi o Diogo de vista... A partir do 4º quilómetro, a prova deixa de ter as grandes rampas contínuas e entra numa zona de floresta onde há algum sobe e desce (mais sobe do que desce) até às Penhas Douradas. As pernas estavam a responder muito bem, o único ponto onde tinha andado tinha sido nas rampas iniciais com mais de 20% de inclinação e tentei aproximar-me do Edgar nesta fase! Numa das subidas lá me consegui juntar e acabei por passar para a frente numa zona onde parámos 2seg à procura da próxima fita. A partir daí procurei impor um ritmo forte, quer a subir, quer a direito e pouco antes de chegar ao "largo" das Penhas Douradas, já não ouvia ninguém comigo... Faço o trilho de ligação ao Vale do Rossim, completamente fustigado pelos incêndios, e vejo a lagoa ao fundo! O primeiro abastecimento e a parte mais difícil da prova estavam quase despachados.

Saída do Vale do Rossim
A chegada ao Vale do Rossim só veio confirmar que a prova estava a correr de feição... Troco um dos flasks que tinha "ido" durante a subida e arranco logo para a saída do absatecimento! Quando olho para a frente, para a barragem da Lagoa vejo o Diogo a iniciar a sua transposição. Aproveito para meter um ritmo mais forte e a partir daí começou a verdadeira corrida "do gato e do rato"... Ora o Diogo me ganhava algum espaço, ora ganhava eu! Os ritmos esses eram muito fortes, ganhámos algum avanço para quem vinha atrás e ninguém queria abdicar daquele lugar no pódio! A chegada à fenda marcava uma das menores diferenças entre nós... Para quem conhece, eu estava a sair da fenda e o Diogo estava a começar a curva para a esquerda, onde fazemos uma ligeira subida até um muro que temos que transpor. Tenho algum cuidado na fenda mas quando saio da zona das rochas saio determinado a tentar diminuir aquela desvantagem... Seguimos a uma distância praticamente constante até à "descida fenomenal", como lhe chamam no Strava: 1km com 200D-, num single track que permite correr mas que exige alguns cuidados nas curvas e contra curvas vão marcando o trilho. A paisagem é verdadeiramente deslumbrante, o Vale Glaciar vai aparecendo à nossa esquerda numa paisagem que exige uma fotografia quando passar lá com mais calma mas nesta altura apenas o terceiro lugar interessava. Incrivelmente eu e o Diogo somos atletas muito parecidos, adoramos correr e as partes mais técnicas acabam por nos desfavorecer ligeiramente... A distância ia-se praticamente mantendo mas mesmo assim eu ia ganhando alguns metros em troços ligeiramente mais técnicos. Fazemos o trilho que atravessa aquela colina num falso plano e aí aproximo-me mesmo do Diogo tendo chegado à descida final da caruma com cerca de 20mts de desvantagem. A partir daqui a prova não tinha nada que saber... Faltavam menos de 4 quilómetros para a meta e quem estivesse em melhores condições, ganhava! A guerra dos ritmos começa e os 3'30''/km iniciais rapidamente se vão convertendo em picos ainda mais rápidos! Passamos pelos meus pais, não consigo dizer rigorosamente nada e quando olho para o relógio percebo o porquê... 2'45''/km é o ritmo imposto e por instantes consigo alcançar o Diogo. 

Distância entre mim e o Diogo, quando passei pelos meus pais a 2kms da meta

Faltam menos de 2km para a meta e o último quilómetro era a subir! O plano era tentar aguentar o Diogo até essa subida e depois era à morte até à meta... Mas como sempre, os planos são os primeiros a cair e quando finalmente alcançei o 3º lugar, o ritmo não abranda de todo! Consigo colar nas primeiras centenas de metros mas acabei por pagar bem caro o esforço de "colar"... Quando faltavam cerca de 500mts para a subida final o Diogo dá a "sapatada" final e eu fico "encostado às cordas"! Os metros que perdi inicialmente transformaram-se na centena de metros antes da subida final e foi aí que me entreguei... O Diogo estava a fazer uma ótima subida e as minhas pernas estavam claramente ressentidas do sprint anterior! Em cerca de 1500mts perdi um minuto e restava-me o quarto lugar, tal como em 2015 onde curiosamente também vi o Telmo Veloso que ia em terceiro lugar mesmo à entrada de Manteigas. Os meus parabéns ao Fumo, ao Guilherme mas especialmente ao Diogo, foi ótimo poder disputar este lugar contigo, demos os dois o nosso melhor e no fim ganhou o mais forte! O gesto de esperares por mim na meta para um sentido abraço entre os dois só vem destacar a ótima pessoa que és e a nossa amizade que foi sendo vincada por esse trilhos de Portugal... Tal como disseste, que venham mais disputas destas que é isto que diferencia o nosso desporto! 

Obrigado pela espera!
Se a nível desportivo a prova foi de excelência, o nível organizativo foi ainda superior! Um secretariado rápido e fluído, um ambiente de festa enorme na partida, um percurso belo, duro e com passagens por alguns dos pontos marcantes da Serra da Estrela, abastecimentos que me pareceram sempre muito bem compostos, banhos quentes e uma refeição bastante completa no final! Para finalizar, só mais um coisa... A simpatia de toda a equipa deste Estrela Grande Trail que tão bem foi tratando os atletas! Permitam-me destacar aqueles que conheço melhor: o Armando, o Natividade e o Pedro Trindade! Um sentido abraço a todos vós e agradeçam por mim ao resto da equipa, foram simplesmente espetaculares! 

Depois de uma prova tão boa a nível pessoal, a motivação está bem lá no topo e a preocupação agora é continuar este bom momento! Domingo volto às provas com o Trail do Almonda onde primeiro vou competir e depois vou ajudar na organização para tornar este evento uma referência a nível nacional! Até lá!

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