2ª Paragem 2023/2024: Lugar mais alto do pódio!

 Grande Trail de Alpiarça

Distância: 28,72km
Tempo: 2h22’38”
D+: 1029m
Classificação Geral: 1º Classificado

Segunda prova da época, a prova mais longa e, simultaneamente, a prova com mais desnível até ao momento. Como se verá no Diário de Bordo de Setembro, os treinos estão a correr muito bem. O corpo reage cada vez melhor às distâncias, reage cada vez melhor aos específicos e os tempos de recuperação começam a ser mais curtos. Estou longe de onde quero chegar, mas já me afastei bastante do ponto de partida. Tudo isto para dizer que sabia que chegava forte a esta prova, que sabia que não era propriamente o meu estilo de trail preferido (muitas subidas, em vez de poucas com mais altimetria) mas, uma vez que estávamos no início de época e era necessário fazer um teste ao aumento dos quilómetros encaixava que nem uma luva. 

A semana pré prova não foi perfeita, mas o final foi exatamente como o previsto... Descansar bem, hidratar melhor e esperar que o corpo reagisse bem ao avolumar de quilómetros. Saímos cedo, no dia da prova e isso proporcionou que desse para fazer tudo com calma. Equipei, comecei a ver a malta conhecida que se ia cruzando, coloquei o dorsal e segui para o ponto de partida (a 2km da chegada da prova, onde se localizava o secretariado). Lá dei uma pequena corrida para precaver algum arranque mais forte que pudesse haver na prova e depois fiquei a falar com a Inês, com os meus pais e a minha irmã (voltou a reunir-se a família completa no trail) e esperei pela partida. 

Preparação para a prova, já na zona da partida

Embora o nervosismo não estivesse no máximo, existia sempre aquela vontade enorme de partir para poder começar a perceber como se desenrolaria a prova. Contagem decrescente de 10 a 0 e lá fomos nós para o Grande Trail de Alpiarça. 400m de terra batida, viragem à direita e começam os Single Tracks. Numa zona sem montanha só há uma coisa a fazer: escolher bem os trilhos e abri-los de maneira a que passem lá os atletas de forma confortável! E foi isso que se viu ao longo de praticamente todo o percurso, obrigado por todo o trabalho que tiveram. Como dizia, aos 400m entramos no primeiro single track e, para ver o que a prova poderia dar, segui em segundo lugar, atrás do Marco Vitorino e tentei ter o ritmo sempre controlado. O desnível ainda não era muito mas estava a sentir-me bem e quem vinha atrás não estava a seguir o nosso ritmo. Os primeiros dois quilómetros eram tendencialmente a subir (um aglomerado de subidas) e, embora me fosse sempre mantendo em 2º lugar, não estava confortável em não ver o que estava à minha frente. Estou a fazer um esforço para não perder tanto tempo em zonas técnicas, mas brincar à adivinhação estava a ser complicado para mim, principalmente num percurso com tanta curva e contra curva. Chegando ao fim desses dois quilómetros temos uma entrada num moinho e, logo de seguida, a descida mais inclinada até ao momento. Como não estava confortável com ir atrás sem ver o caminho, passei para a frente e acelerei um pouco para garantir que não voltava a ficar sem visibilidade. 


Passei no moinho já em primeiro lugar, acelerei na descida e, quando voltou a ficar plano, olhei para trás e já não vinha ninguém comigo.  Embora estivessem à vista, já não estavam propriamente comigo. Não era o plano de prova que tinha traçado, mas estava bem e decidi continuar… Faço uma pequena subida (acompanhado por uma raposa que foi perturbada por uns malucos que correm) e entramos no trilho anunciado pela organização como um segmento no Strava que daria 100€ ao primeiro classificado (escusado será dizer que numa classificação onde entra a prova curta e a longa fiquei a mais de 1' do primeiro). O segmento eram cerca de 2,5km, num terreno altamente acidentado onde, ora se subia, ora se descia, sem um único metro plano… Tentei subir de forma constante e descer controlado para não causar demasiado desgaste para o fim da prova. Ia sempre ouvindo o grupo que seguia atrás de mim mas, aos poucos, ia-me afastando. Sentia-me muito bem a subir, mas a verdade é que sinto que estou a descer melhor que nunca (as sapatilhas também têm dado garantias de estabilidade). O segmento terminava no final de um single track a subir e foi no início desse single track que senti pela última vez que tinha um grupo próximo. Acaba o single track, sigo em direção ao abastecimento, passo sem parar e arranco para uma fase da prova em que domina o plano e a descida. As sensações continuam a ser muito boas, aproveito o terreno para meter um ritmo forte e, após a primeira zona plana após o abastecimento, viramos à direita e olho para trás e, afinal, ainda não estava completamente sozinho. Aproveito a entrada num single track tendencialmente plano, meto o primeiro gel e continuo a manter um ritmo forte (fiz esta zona com quilómetros entre 4’20” e 4’32”) e não voltei a ouvir, nem ver, ninguém atrás. Agora sim, seguia completamente destacado e já só restava o medo de não aguentar os quilómetros finais a estes ritmos. 

A primeira hora de prova tinha acabado de passar quando temos uma descida inclinada em cascalho. Entro a medo mas percebo que não vale a pena. Deixei-me “escorregar” pela areia, cheguei ao ponto mais baixo onde existia um ponto de água mas voltei a não parar e segui direto para a subida que se seguiu que, tirando uns pequenos troços a descer era a maior de toda a prova. Apesar de não conhecer o percurso, mantive exatamente o mesmo método durante esta fase que tinha vindo a utilizar: tentar correr sempre a subir e manter a força nas zonas planas. Consegui fazê-lo e foi nesta subida e na próxima que senti que estava mesmo bem, melhor do que tinha antevisto. Nesta primeira (dos 11 aos 14km) sempre a subir forte sozinho, senti que estava a ganhar terreno mas, aos 16,5km ouvi algo atrás de mim. Pensei para mim que era alguém que vinha forte, porque nesta fase da prova estar a recuperar terreno para mim, que me sentia bem, significava que vinha ainda melhor que eu. De qualquer maneira, tentei não quebrar e, sempre que possível, andar ainda mais forte. A verdade é que, após a prova, percebi que o que ouvi só pode ter sido um animal, porque do primeiro para o segundo controlo aumentei a vantagem de 1’01” para 1’38” e não estava vento suficiente para mexer as árvores ao ponto de eu sentir que era uma pessoa. A segunda subida (dos 17 aos 19km), já após a junção com a prova pequena foi feita a um ritmo ainda mais forte, sempre a ultrapassar pessoal da prova pequena e a sentir-me, ainda, muito bem. 

Descida longa, após a segunda subida da fase que descrevi anteriormente

A fase seguinte da prova é a fase de transição daquela que, para mim em prova, foi a fase mais dura mas, na verdade, foi a fase em que estava a ganhar mais avanço. Faço a descida longa sempre em força, passo pelo meu pai em muito bom ritmo, troco flasks e entro na zona mais plana da prova. A zona mais plana mas, simultaneamente, a zona mais enganadora. Travessias de linhas de água, muita ultrapassagem de pessoal da caminhada e do trail curto e, quando aparecia uma subida, por vir a ritmos mais altos, custava muito mais a fazer tudo a correr. Foi nesta fase que entrei numa luta contra o relógio: estava em autêntica contagem decrescente para os quilómetros que faltavam, queria manter o ritmo (dos 19 aos 28km fiz 8km abaixo de 5’03”, dos quais, 4 abaixo de 4’40”) mas também queria que a meta chegasse o mais rapidamente possível. Queria acabar a prova forte porque não podia estragar tudo tão perto da meta! Comecei a perguntar a distância aos elementos da organização a 2km da meta, mas ninguém parecia ter muitas certezas. As forças estavam claramente a terminar, segundo o gráfico faltava menos de 1km mas a meta não parecia estar perto. Mantive-me focado, sabia que a prova estava a acabar e, na última passagem de uma estrada de alcatrão ouço o que queria (falta menos de 1km). Fiz a última subida a correr e, quando chego lá acima, estava a Inês à minha espera. Percebi que já tinha entrado na herdade onde terminava a prova e comecei a correr em direção à meta. Ainda olhei para trás, mas sabia pelo que vinha a ouvir atrás de mim, ninguém estava perto. A Inês acompanhou-me até à reta da meta onde estavam os meus pais e a minha irmã à espera. Umas palmas trocadas com o pai, umas palmas trocadas com umas crianças que iam aguardando pelos atletas e, finalmente, estava concluída a minha segunda prova da época, desta vez com a subida ao lugar mais alto do pódio (melhoria em relação ao que se passou em Sintra). 

O "high" five final... Aquela era nossa!

No final da prova, apesar de ter feito o trail (entre provas e treinos) mais longo da temporada, ainda deu para uma pequena descompressão com a Inês (que se está a especializar em fazer parte dos trails enquanto espera por mim :p), uma conversa com o meu pai sobre as sensações da prova e o almoço convívio e entrega de prémios. 

Descompressão final

Resumindo, o decorrer da prova não foi propriamente como o planeado mas as sensações também foram amplamente melhores que o expectável. O traçado do percurso, embora não fosse como eu gosto, foi o melhor possível dentro das características da zona de Alpiarça, acabando por ainda acumular mais de 1000m de desnível positivo. As marcações estavam perto de perfeitas, mesmo sabendo que muitos dos percursos foram feitos à custa de muito trabalho da organização, o que torna a sua marcação mais difícil. O almoço convívio foi servido em boa quantidade (tanto que nem consegui comer tudo) e a festa do pós prova foi muito boa. Parabéns à organização. 

Com o polo do Caracol de volta! Sabe bem vestir esta roupa!

Quanto a mim restam-me duas coisas: continuar com os treinos e aproveitar todos os momentos competitivos para me superar, tal como tem acontecido. Obrigado ao meu pai por, com toda a cumplicidade e dedicação, me permitir chegar até aqui com esta forma, obrigado à Inês por me acompanhar por onde me sinto mais feliz, sempre de sorriso no rosto e obrigado também à mãe e à mana, que continuam com o brilhozinho nos olhos por me acompanharem nesta "caminhada" no Mundo do trail.  

Comentários

  1. Parabéns o trabalho da resultados que venham muitos mais momentos felizes ☺️

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