5ª Paragem: Ultra Trail Transfronteiriço de Barrancos

Ultra Trail Transfronteiriço de Barrancos

Distância: 54.60kms
Tempo: 05:39:53
Classificação Geral: 2º Classificado
Classificação Escalão: 1º Classificado SenM

Em conversa com o grande amigo Ico Bossa tinha prometido que voltaria a uma terra que me é muito querida e que voltaria a correr a prova por ele idealizada e brilhantemente organizada pelo Mundo da Corrida. A meio do presente ano decidi que este seria o ano e a inscrição seguiu...

Na sexta feira, dia 27/11, seguiu uma comitiva de 7 caracóis (6 atletas + 1 acompanhante) para representarem a equipa por terras alentejanas e como sempre tentar fazer a melhor classificação possível desfrutando ao máximo de tudo o que a prova nos daria. Foi chegar, jantar porco preto, uns joguinhos de setas, rever velhos conhecidos (um muito obrigado a todos aqueles que me foram ver, vocês são fantásticos) e finalmente pavilhão. Ao contrário do que aconteceu este ano no Algarve consegui dormir, dormi bem e muito e quando acordei na manhã seguinte sentia-me bem e com uma vontade enorme de correr! Foi comer qualquer coisa, últimos preparativos e siga para o Parque de Feiras e Exposições de Barrancos, local da partida.

Parque de Feiras e Exposições de Barrancos

O relógio aproximava-se das 9h, os atletas começaram a juntar-se no pórtico da partida e após a contagem decrescente saímos para uma aventura que prometia muito... Seriam 55kms com 1500mts D+. Saída não demasiado forte, o ritmo ia a rondar os 4' 15'' min/km e deixei-me ir, estava confortável e rapidamente o terreno inclinou e tive que reduzir o andamento. A subida não era muito inclinada mas era algo longa e quando cheguei ao topo estava na frente da corrida num grupo que já se mostrava reduzido logo atrás. Descida inclinada logo a seguir e um percurso pelo meio do "bosque" até regressar a Barrancos. Na subida que dava acesso à localidade (+/- 5kms) o Vitor Cordeiro passou num bom ritmo e acabei por apanhar a boleia, atravessámos ruelas, igreja e chegamos ao 1º abastecimento, só de água. Como tínhamos "acabado" de partir e a manhã não estava propriamente quente seguimos caminho sem abastecer e saímos de Barrancos. A saída era feita por uma zona em alcatrão, numa ligeira subida, novamente longa, o ritmo estava alto mas sem forçar muito, foram os primeiros sinais de que o corpo se estava a sentir bem. A meio da subida (+/- 8kms) o Vitor parou e segui eu na frente da prova, situação que se manteve até ao segundo abastecimento, aos 12kms, onde estava a minha mãe. Foi o primeiro abastecimento onde estava isotónico, aproveitei a bondade da organização e enchi os bidons, tal como faria até ao final da prova... Além de saber bastante bem, estava fresco e hidratava, perfeito para a prova! Encher rápido, um pedaço de banana e siga para o terceiro abastecimento. Subimos um monte logo após o abastecimento e foi só rolar até ao terceiro abastecimento, na pipa, um dos locais mais bonitos da prova. 

Segundo abastecimento, antes da ponte da pipa
Saída do segundo abastecimento




























Após este abastecimento a prova entrava noutra toada, deixávamos os trilhos e caminhámos para perto da margem do rio. Logo após a ponte na imagem anterior o caminho era feito por um estradão perfeitamente corrível, para quem tinha pernas, local onde deixei de ver o Vitor, ele ia num ritmo que sabia ser demasiado alto para mim. Poucos kms à frente tínhamos um desvio à esquerda que nos levava para um trilho "monte acima", pouco definido que nos levou diretamente para a margem do rio. O caminho por vezes desviava-se da água mas rapidamente voltávamos para a sua margem. Num desses desvios volto a ver o Vitor e vejo que afinal não estava a perder muito, mas não entrei em grandes "euforias". Ele voltou a acelerar, eu meti o meu passo e rapidamente cheguei ao Monte da Coitadinha, local do quarto abastecimento, onde estava o Ico. Uma ligeira troca de palavras, um bocado de sal e siga caminho. Novamente junto ao rio, vejo duas vacas ao longe e começam a correr à minha frente... Foi 1km a correr acompanhado e depois elas viraram à esquerda, quando olho para as fitas são para a direita, vejo o seu seguimento, uma subida muito inclinada, não admira que ela fossem para o outro lado! Subida acima e primeiro sinal de cansaço, começo a sentir as pernas ligeiramente pesadas mas nada que não fosse normal para perto de 30kms de prova. Quando começamos a atacar a "subida" para Noudar, lembrei-me de um treino que tinha feito por aqueles lados já fazia mais de um ano com o Ico em que estava meio esgotado e dei por mim a rir-me comigo próprio com a evolução que tinha tido. Pensamentos para fora e vamos subir para o Castelo. Continuava a sentir as pernas mas isso não me impediu de fazer 85% da subida a correr, só nas rampas mais inclinadas é que não estava a conseguir correr. Chegada ao Castelo de Noudar, foi reabastecer os bidons (e que jeito deu este abastecimento) e seguir para dar a volta aquela península humanamente desocupada.

Após o abastecimento da 1ª passagem pelo Castelo de Noudar
Antes de iniciar a descida fui avisado que aquela seria provavelmente a fase mais perigosa da prova, e o aviso veio em boa hora, porque foi mesmo essa a realidade! Foi uma fase muito dura, uma fase à qual não me adequo na plenitude mas que tentei fazer sempre sem risco algum, poderia perder algum tempo mas pelo menos conseguiria mater-me "fresco" para o resto da prova. Assim que passei essa fase mais técnica voltou a fase da corrida e consegui meter novamente o meu ritmo. As pernas começavam a mostrar mais sinais de cansaço, aquelas pedras todas mesmo devagar tinham deixado marcas. Nova ascensão até ao Castelo de Noudar, tive um começo não muito rápido mas fui-me sentindo melhor ao longo da subida e a partir de meio voltei a correr! 

De regresso ao Castelo de Noudar
Já dentro do castelo foi mais do mesmo... Sal, bidons e seguir! As pernas começavam a pesar e aquelas zonas técnicas junto ao rio deixavam ainda pior. As paisagens eram belíssimas mas na altura o corpo queria pouco saber disso queria era os kms a passar. Dei por mim a olhar para o relógio de 100 em 100mts até que me proibi de olhar para o relógio e em menos de nada estava no último abastecimento, ao 47kms. Daqui para a frente era voltar ao estradão por onde tínhamos passado após a ponte da pipa. Sabia que os desníveis não eram muito acentuados e foram muito raras as ocasiões em que o corpo me forçou a andar, não era uma corrida como a inicial, a 4min/km, mas era o possível. Na ponte da pipa voltei a ver os meus pais, foi muito bom... Estava a precisar de ver alguém conhecido, ouvir alguém a dar força e tive isso tudo... Além de um grande sorriso por me verem a chegar! Daí para a frente, apesar de ter algumas subidas consegui sempre manter um ritmo forte e à chegada foi ótimo ouvir uma voz amiga de quem não estava à espera a chamar por mim, ainda deu para dar aquela última corrida em direção à meta! Obrigado Tomás Torres, és enorme! 

A cortar a meta, dois grandes abraços! Um do meu pai que estava à minha espera, senti o alívio dele por me ver chegar, estava provavelmente mais nervoso que eu, e foi uma vitória dos dois! Logo a seguir, um grande amigo, por quem tenho uma grande amizade que também lá estava para festejar comigo, o António Soeiro de Brito, obrigado por todo o apoio! Esta chegada foi um misto de emoções, numa terra que me diz muito, junto de gente que muito estimo e onde dei tudo o que tinha e não tinha!  

Por fim foi esperar pela restante equipa, sabendo que tínhamos hipótese de lutar pelo 1º lugar coletivo. Em 5º lugar chegou logo o Gil, que prova enorme que fez (parabéns amigo!), ainda lhe valeu um prémio e após algum tempo chegou o Pedro Crispim, que vinha super preocupado com a equipa sem necessidade nenhuma! De qualquer maneira, obrigado pela preocupação, amigo, és grande! Por fim mas não menos importante chegou o João Martins ainda a tempo de festejar o caneco de 1ª equipa... Foi um dia caracolesco enorme, quer de convívio quer de resultados! 

Pódio geral masculina com o Gil Vicente

Pódio coletivo - 1ª equipa



























Resumindo, uma prova espetacular, com um percurso belíssimo e duro! Organização muito, muito boa, onde não me perdi uma única vez, com abastecimentos bons e bem colocados... Excelente mesmo! Foi um grande dia quer para mim, quer para a equipa! Boas corridas a todos

Comentários

  1. Só descobri o teu blog hoje mas já andei a ver tudo para trás. Tão bom atleta como a escrever, gostei muito e vou seguir com atenção! Muitos parabéns pela grande prova em Barrancos! Grande abraço e até um dia destes num trilho (pelo menos na partida).

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    1. Ainda me lembro de ter lido o teu texto do MIUT e largar-me em lágrimas enquanto o fazia... Faz parte dos textos obrigatórios antes de cada aventura em que me meto!
      Obrigado pelo elogios, Filipe Torres. Até um dia destes num trilho.

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  2. Grande Tiago continua campeão ... Abraço.

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    1. Espero continuar... E com a tua companhia! Grande abraço

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  3. Estás uma makina, mas poupa-te que ainda és muito novo. Outra coisa só ficaste em segundo porque eu tive que ficar a assar carne........
    Um grande abraço amigo.

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    1. Se ficavas à minha frente, acredito que sim, mas uma coisa é certa, se fosse eu a assar a carna, a probabilidade de ficarem queimadas era bem maior! Grande abraço, amigo e obrigado pelo apoio!

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