6ª Paragem 2018: A melhor de sempre!

Território Circuito Centro - Proença a Nova (Taça Nacional Ultra Trail)

Distância: 49.98kms
Tempo: 04:49:12
Classificação Geral: 6º Classificado
Classificação Escalão: 5º SenM

Em 2017 estive presente na Taça Nacional de Ultra Trail, edição realizada em Vila de Rei e na mesma distância deste ano, 50 quilómetros. Na altura fiquei com a nítida sensação de ter dado o meu máximo, apesar de vir da recuperação de uma entorse, cheguei ao fim e praticamente não conseguia falar... Demorei 10 minutos a voltar ao meu estado "normal". Em 2018 o "chip" era completamente diferente. Uma preparação adequada, o foco praticamente total nesta prova (o tal objetivo intermédio) e uma vontade enorme de fazer mais e melhor do que alguma vez na vida tinha feito!
Como pus tanto de mim nesta prova, resolvi arriscar e dar o último passo... Em conversa com o meu mano mais velho, Pedro Ricardo, surgiu a possibilidade de seguirmos viagem na noite antes para Proença e, apesar de ser tarde de mais para procurarmos uma casa que fosse viável economicamente, tínhamos sempre a solução dada pela organização, o pavilhão da escola secundária da localidade. Foi assim que à hora combinada saímos de Torres Novas em direção à Taça de Portugal de Ultra Trail. Quando chegámos, a chuva que não dava tréguas há vários dias resolveu acalmar e deixar-nos levantar dorsais para a equipa toda e ir até um restaurante onde acederam imediatamente a criar um prato de "atleta", com a típica massa em vez do arroz que estava previsto. Uma refeição calma, adocicada com uma sobremesa e à qual se seguiu a nossa ida para o pavilhão! Foi na chegada ao local onde iríamos dormir que temos a primeira surpresa... Um treino de futsal feminino estava a decorrer e inicialmente não percebemos onde poderíamos descansar. Um senhor lá se apercebeu da nossa admiração e encaminhou-nos para uma sala recatada onde já se encontrava um atleta pronto para repousar. Tentámos montar a tenda o mais rapidamente possível e logo de seguida fomos ver o fim do treino... Apesar da estranheza inicial do local previsto, houve um grande respeito por toda a gente, quer atletas de trail quer atletas de futsal e às 23h já não havia barulho do treino e as luzes estavam apagadas... Alguns atletas foram entrando na sala e à exceção de uma grupo, toda a gente foi respeitando o descanso dos outros e consegui ter uma noite bastante calma (tirando o susto que apanhei com a chuva das 23h15', tal era a quantidade de água que caía).

A manhã do dia da prova decorreu praticamente como uma manhã em casa, tinha tudo preparado e comprado para não fugir nada ao habitual e à hora combinada chegou o resto da equipa, que tinha vindo de madrugada de Torres Novas. Últimos preparativos e últimas divisões dos carros e lá seguimos para a aldeia de Montes da Senhora, local da partida da prova. Assim que saímos do carro bastava olhar para qualquer dos lados e logo encontrávamos uma cara conhecida e acima de tudo, um favorito à vitória! Muita gente tinha esta prova como um dos pontos altos da época e as expressões de concentração em muitos dos atletas evidenciavam isso... Já só faltava mesmo o Joca receber o ok da organização para iniciarmos! Por volta das 9h10' lá veio o tal ok e após uma contagem de 10 até 0 estava lançada a prova que apuraria o primeiro representante da Seleção Nacional nos Mundiais de Trail de 2019.

Momentos iniciais da prova, ainda dentro de Montes da Senhora (Foto: Paulo Nunes)

A saída da prova foi feita a ritmo relativamente controlado... Um ritmo forte mas que permitia que ainda seguisse um número elevado de atletas no grupo da frente! Até aos 2kms o filme da prova é muito fácil, o Luís Semedo e o Tiago Aires iam impondo o ritmo e o resto do pessoal ia seguindo. Aos 2kms, a prova sai do estradão que vinha a seguir e entra numa subida feita num single track pelo meio das árvores onde todos os atletas que seguiam no grupo da frente se tentam posicionar para não perderem o contacto com a frente. Também eu o fiz e acabei por ser bem sucedido, tendo saído desse trilho nos 5 primeiros... Logo de seguida tínhamos uma zona ligeiramente plana, onde encontro o Telmo Veloso (já tínhamos partilhado alguns trilhos em Portalegre, nos Trilhos dos Reis), trocamos algumas palavras e logo de seguida a prova entra na primeira subida com mais de um quilómetro... Logo na fase inicial acabo por ser passado por um grupo que era comandado pelo Romeu Gouveia e que seguia a um ritmo muito forte! Tento colar, mas sem forçar demasiado, era demasiado cedo para arriscar ritmos demasiado altos e acabei por ficar para trás. Quando termina esta subida ainda os consigo ver e tento perseguir para recolar mas logo percebi que era uma tentativa escusada, os ritmos iam verdadeiramente alucinantes... De tal maneira que, ao sair do trilho para um estradão aproveito para olhar para o relógio e ia a 3'30''/km! Mas o que para mim foi mais espantoso foi o terreno entre mim e o grupo não parar de aumentar. Logo a seguir entramos em nova subida e consigo não perder demasiado tempo para a frente! O problema foi logo a seguir, quando entra a descida mais técnica da prova... Não é que eu fosse propriamente devagar, até considero que não foi uma má prova no que à parte técnica diz respeito, mas há pessoal que literalmente voa nas descidas... Aqui sou passado pelo segundo grupo que se tinha formado e nomes como o Pedro Rodrigues e o Nuno Silva acabam por me ganhar um grande avanço. É assim que chego ao primeiro abastecimento, na companhia do Telmo Veloso que tinha também ficado para trás na descida e do Pedro Mendes, que me tinha alcançado no final da descida. 

Saída do 1º Abastecimento (Foto: Caracol Trail Team/Juca)

O primeiro abastecimento coincide também com a entrada na minha espiral negativa... Começo a tentar forçar para não perder mais lugares mas, até onde costumo ser mais forte, a subir, a coisa não estava propriamente famosa, acabando por finalmente  conseguir acompanhar o ritmo imposto pelo Frederico Cerdeira e o Marcolino Veríssimo! À exceção da "zona crítica" da prova (já lá vamos), esta era a subida mais dura da prova... As inclinações iam variando mas passámos muito tempo a subir e foi já no final da subida que senti que apesar de não ter acompanhado o ritmo inicial, os danos no corpo não tinham sido exagerados. Assim que iniciamos a descida perco um pouco o contacto do tal duo que falei antes mas à medida que íamos progredindo no terreno, acabei por me juntar a eles e no fim, eu e o Fred até acabámos por ganhar algum terreno... Quando chegámos à entrada da localidade do segundo abastecimento, numa zona muito rolante, consigo mesmo meter um ritmo que me permitiu ficar sozinho e chegar ao abastecimento com um ligeiro avanço! E é exatamente aqui que a prova começa a mudar para mim! O abastecimento parecia uma autêntica Pit Stop da Fórmula1, a minha paragem acabou por ser a mais rápida e quando saio do abastecimento saio decidido a aumentar o ritmo e tentar aproximar-me dos lugares mais à frente! 

Zona do segundo abastecimento (Foto: Luís Duarte)

Arranco para os próximos 14kms até ao terceiro abastecimento em ritmos entre os 3'40'' e os 4'10'' e a verdade é que consegui descolar de quem me vinha a perseguir e mesmo antes de chegar à subida seguinte vejo um grande grupo que já estava na fase mais inclinada... Faço praticamente tudo a correr e só nas zonas em que tínhamos que subir um aglomerado de pedras é que metia a passo! Terminei esta fase quase a chegar ao Pedro Rodrigues mas não o consegui apanhar. Acabei por na descida seguinte perder o contacto visual e inclusivamente, numa zona em que tínhamos que meter por um canal de água e onde não via fitas para nenhum dos lados, acabo por hesitar e sou apanhado novamente pelo Fred... Ele percebe que o caminho é para baixo e sigo logo atrás dele, tendo passado novamente na zona plana e aqui sim, foi a última vez que vi este grupo!

É aqui que começa a tal "zona crítica" da prova... 17kms em que a palavra que mais os caracteriza é Subir! Inicialmente a subida era ligeira, num dos trilhos mais bonitos que já fiz até hoje, com um caudal de água enorme do nosso lado direito! Esta zona era ligeiramente técnica e tive algum receio que fosse alcançado pelo Fred novamente mas consegui manter o avanço. Assim que terminamos este trilho mais técnico, seguimos em direção a uma aldeia, fazemos novo trilho espetacular junto a uma zona de levada e entramos naquela que foi talvez a minha melhor subida em prova de sempre! O ritmo com que iniciei a subida foi praticamente o mesmo com que terminei... Iniciei forte e ao fim de pouco tempo vejo o Pedro Rodrigues e um atleta do Coimbra à minha frente! Forço o ritmo para colar e assim que chego, arranco! O Pedro ainda me diz que o Pedro Ribeiro estava uns minutos à minha frente, mas pouco tempo depois foi o Vitor Cordeiro que apanhei... Uma lesão tinha-lhe atraiçoado as intenções (as melhoras Vitor)! Passo e realmente passado algum tempo lá estava o Pedro à minha frente... Falamos um bocado sobre a gripe que também o atacou na semana antes da prova e acabo por seguir! Sabia que o final da subida não estava longe mas mesmo antes de o atingir, ainda vejo o Hugo Bia! Junto-me a ele, trocamos umas palavras e ainda tenho tempo de ganhar alguma vantagem até ao início da descida que nos iria levar ao terceiro abastecimento... A motivação de uma subida tão bem conseguida fez com que fizesse a transição subida/descida muito facilmente e consegui meter ritmos muito altos na descida e já no acesso ao terceiro abastecimento volto a apanhar o Telmo Veloso. À chegada ao abastecimento, nova Pit Stop, estava tudo a correr demasiado bem para perder muito tempo nos abastecimentos! O Telmo parou mas como consegui despachar-me rápido, acabei por ganhar algum avanço. 

Pouco antes do terceiro abastecimento (Foto: Paulo Amaral)
Assim que saímos do abastecimento, nova zona de subida, passo o Leonel Cunha e sigo mais uma vez a um bom ritmo! Aqui o intervalo entre atletas começa a ser cada vez maior e acabo por fazer as duas subidas na integra sem passar nenhum atleta... Já no final da descida, mesmo junto ao abastecimento, passo um novo atleta e vejo a sair do abastecimento o Nuno Silva, que a última vez que o tinha visto tinha sido na tal descida técnica! Parecia que a recuperação estava a ser perfeita e por coincidência, a minha chegada ao quarto abastecimento coincidiu com o início do segundo período de chuva da prova. Acabo por passar no abastecimento sem dizer praticamente nada, o meu pai percebeu que estava completamente focado e não trocámos mais de 3 palavras cada um... Sigo e já durante a última subida longa da prova, o Nuno estava a seguir o caminho "principal" e quando levanto a cabeça vejo que as fitas encaminhavam para a direita, chamo o Nuno, ele volta para trás mas assim que arranco novamente para a subida fico logo sozinho! Mas como não há sol que sempre dure e mal que nunca acabe, é aqui que começo a sentir a quebra de toda a recuperação que estava a fazer! As boas notícias é que mesmo com a quebra, estava a conseguir ganhar algum terreno... O passo de corrida praticamente constante nas subidas anteriores era agora alternado com períodos curtos de caminhada com passos largos. Acabo por ir ganhando avanço ao Nuno e quando chego à zona mais alta do percurso, a zona das antenas, vejo o André Carriço e o Nelson Santos a iniciar a descida.

A partir daqui o percurso era maioritariamente a descer e lanço-me pela descida no máximo que conseguia, de tal maneira que fiz os primeiros 5kms da descida em 20', e mesmo assim não consegui alcançar nenhum dos dois! O único atleta que alcancei foi o Luís Fernandes, que estava a contas com uma indisposição e tinha abrandado o ritmo... Tentei forçar novamente para os tentar alcançar mas os últimos 5kms da prova eram substancialmente diferentes dos 5 que tínhamos acabado de percorrer. Zonas planas, algumas subidas curtas e descidas igualmente curtas... Acabo por ir vendo o André e o Nelson numa luta pelo 5º lugar, vou-me aproximando, mas pouco! Parecia que os quilómetros e as forças se aproximavam mais do fim do que eu deles mas a dois quilómetros da meta, na última subida da prova, aproximo-me muito do Nelson e acabo mesmo por conseguir colar. Assim que o terreno voltou a ficar direito, voltei a meter um ritmo forte, tendo seguido na 6ª posição até ao momento em que entro em Proença... À medida que me aproximo da meta, oiço o Joca a anunciar a chegada do André! A partir daí foi só forçar o ritmo para chegar o mais depresssa possível à meta e poder finalmente dar descanso às pernas que tão bem se estavam a portar! À chegada lá estava a enorme equipa de apoio do Caracol e que orgulho tenho nesta família! Enquanto cortava a linha de meta festejava este sexto lugar... Tal como escrevi na página do blogue, quando nos preparamos e sentimos que estamos bem, acabamos por ter sonhos que vamos alimentando e esses sonhos, aos poucos vão-se tornando um objetivo! A verdade é que meti a meta demasiado alta e um lugar no pódio era algo que seria utópico mas no fundo, no fundo, ainda bem que o fiz! Agora que terminei a prova e analisei o progresso da mesma e o resultado final só consigo estar ainda mais motivado para trabalhar mais e mais... Que venham as próximas aventuras e acima de tudo, o #caracolnamadeira... O dia 28 de Abril está cada vez mais próximo!

Após a prova, com o Hugo Neves (Foto: Caracol Trail Team/ Juca)

Se a nível pessoal fiquei muito satisfeito com o resultado, o meu orgulho aumenta exponencialmente a nível coletivo! 3 atletas nos 21 primeiros classificados que resultaram no segundo lugar por equipas com algumas das melhores equipas do país... Estar nesta família já deixou de ser extraordinário, já está num patamar onde as palavras começam a faltar! Obrigado a todos e parabéns pelos brilhantes resultados obtidos nas duas provas a todos os caracóis.

No que à organização diz respeito, algumas notas:
- Em primeiro lugar, muitos, muitos parabéns pelo percurso! Simplesmente fantástico! Com as condições climatéricas que afetaram o país nas semanas que antecederam a prova passámos por zonas lindíssimas e sem andar "encharcados" em lama!
- Em segundo lugar, o dia pré prova... Tudo bem organizado, com um mapa na zona de levantamento dos dorsais com os pontos onde poderíamos comer e onde todo o pessoal voluntário estava empenhado em ajudar! O meu obrigado às voluntárias que se disponibilizaram a ajudar quer com a alimentação, quer com o local de dormida!
- Em terceiro lugar, as marcações! Não é que estivesse mal marcado, só andei uma vez fora do trilho e duas ou três sem ter a certeza se o caminho seria por ali... Isso era facilmente solucionado com fitas menos espaçadas! Eu percebo a teoria de só quando há mudanças de direção é que é precisa mais sinalização, mas isso deixa os atletas na dúvida em alguns momentos!
- Em quarto lugar, a avaliação "geral"... Sem dúvida que estão de parabéns! Um grande evento, alguma mobilização da localidade para o evento que ia ocorrer e um percurso muito, muito bonito... Os meus parabéns!

Comentários

  1. Brutal, grande prova e grande relato! Impressionante a quantidade de "nomes" na frente, a tua prestação foi brutal, parabéns! Fiz esta prova há 3 anos e adorei. Tenho que lá voltar.

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    Respostas
    1. Enquanto ia escrevendo também fui reparando nisso... Enquanto ia na prova só queria era chegar mais à frente e só no fim tive o discernimento de fazer o "balanço" ;)
      Muito obrigado Filipe :)
      A prova foi mesmo muito porreira, adorei aqueles trilhos e a quantidade de água que caiu nos dias antes só deu mais beleza ao percurso, ao contrário do que costuma acontecer!

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