8ª Paragem de 2016: 2ª vitória da minha carreira

Trail de Montejunto

Tempo: 03:50:40
Distância: 37.55kms
Classificação Geral: 1º Classificado
Classificação Escalão: 1º Classificado SenM

No início do ano este fim de semana estava marcado como sendo o ponto alto da minha preparação... Tudo o que fizesse, de bom ou de mau iria repercutir-se no sábado, 23 de Abril! Desde que iniciei a minha preparação até receber a notícia da minha não ida ao MIUT, foram muitas horas a correr, foram muitos kms percorridos por todo o país, foram muitas horas que roubei à cama no fim de semana, foram muitas conversas que tive às 7h da manhã a correr pela serra com o meu mano para que tudo corresse como planeado naqueles 115kms com 7000mts de D+. Quando recebi a notícia, apesar de triste recusei-me a baixar os braços, todo aquele trabalho não podia ir pelo "cano abaixo" e tinha que surgir daqui alguma coisa que pudesse considerar como um "teste" para ver como tinha reagido o corpo a tamanha carga. Fui procurar pelas provas mais longas que se faziam em Portugal continental e encontrei Pombal e Montejunto, as duas com +30kms e as duas relativamente perto de casa... Acabei por optar pela prova que tinha mais desnível, os 2000mts de D+ da Serra de Montejunto ganharam aos pouco mais de 1000mts de D+ da Serra de Sicó.

A preparação da prova não foi a mesma, como era de esperar... Apesar da semana pós Almeirim se ter mantido quase intacta, os treinos desta última semana foram maiores e com mais frequência do que o Pedro! Os problemas começaram a surgir na segunda, uma ligeira dor na coxa direita levou-me a ter mais precaução, tive medo que o fim de semana estivesse mesmo "embruxado" e não pudesse ir à prova, mas a verdade é que a dor foi passando ao longo da semana. Na quinta feira, quando a dor já tinha praticamente desaparecido aconteceu-me algo pela primeira vez desde que me encontro na atual situação profissional, não consegui treinar! A verdade é que estava perto da prova e optei com o meu pai por não treinar muito tarde, foi um dia de descanso "forçado". Na sexta, quando estava a voltar na viagem para Torres Novas, em conversa ao telemóvel com o meu pai, reparei numa serra que se encontrava à minha esquerda, com umas antenas lá em cima e ele disse-me que aquele ia ser o palco da prova de domingo... Logo como primeira impressão pareceu-me muito bem, uma serra muito parecida com a nossa Serra D'Aire, quer a nível de declives quer a nível de vegetação.

No sábado foi dia de descanso e dia de recuperar o corpo para o empeno que aí vinha. Passei o dia praticamente todo a acompanhar a prova do Pedro na Madeira e à medida que os kms dele iam avançando ficava cada vez mais com a certeza de que o trabalho tinha sido muito bem feito. Quando o vi a cortar a meta, foi altura de cerrar o punho como se de uma vitória se tratasse e festejar interiormente aquele que era o "nosso" maior feito. 


Chegada do meu mano vista em Direto

Era altura de analisar a altimetria da minha prova e quando o fiz deparei-me com quatro subidas acentuadas e longas, tal como estou habituado nos Vales da Serra D'Aire e percebi que estava ali uma prova muito ao meu jeito. Preparei a mochila com todo o material obrigatório (que fiquei sem perceber se era realmente obrigatório ou não) e fui descansar. Já no dia da prova o dia foi muito semelhante ao de Almeirim, despachar-me, viajar ao som da minha playlist pré prova e chegar a Montejunto! A mudança para o equipamento de prova foi rápida, e em menos de nada estava na linha de partida. Quando passavam poucos minutos das 9h a partida foi dada...

Mais uma vez, por não conhecer o restante pelotão não sabia o que esperar do ritmo inicial... Decidi sair ao meu e se alguém saísse mais rápido, logo decidiria o que fazer. Ao fim de 1000mts, a frente da corrida já era composta por mim e pelo Pedro Ribeiro da minha equipa e excepto uma companhia pontual por volta dos 2kms em que um dos restantes atletas se juntou a nós até iniciar a primeira subida, a primeira metade da prova foi marcada pela nossa "liderança" da prova. 


Primeiros metros após a partida

O ritmo ia forte, não exageradamente, mas era o suficiente para começar a suar. A primeira subida era muito a pique e mais de metade da subida foi feita a passo, uma passo acelerado que nos permitiu atingir rapidamente o topo e seguir em direção ao primeiro abastecimento! Na altura estava com os flasks praticamente cheios, não havia necessidade de parar e seguimos para a primeira descida. Perto dos 9 quilómetros iniciou-se aquela que segundo o gráfico era a subida mais complicada... Perto de 400mts de D+! Só que desta vez, ao contrário da primeira subida, a distância percorrida era maior e a inclinação não era tão acentuada. Isto fez com que eu e o Pedro fizéssemos a subida quase toda a correr (a meio, uma paragem de milisegundos para apreciar a paisagem que era simplesmente fantástica). Mesmo quando estávamos a chegar perto das antenas (o ponto mais alto da serra) olho para o percurso que fizemos e vejo um dos atletas a aproximar-se de nós. Parecia que afinal de contas a subida não estava a ser rápida o suficiente e já vinha um atleta na nossa perseguição.


Chegada às antenas, onde nos cruzávamos com os caminheiros

Estava na altura de acelerar o ritmo para voltar a aumentar a vantagem. A verdade é que esse atleta era o Fábio Fontoura, que se encontrava a competir na distância dos 21kms, mas não tínhamos maneira de ter essa informação, ele ainda estava uns 500mts atrás de nós. Fizemos essa descida a uma velocidade razoável, íamos pedindo para passar pelo pessoal da caminhada coisa que foi aceite por todos os elementos, muito obrigado a todos! A fase que se seguia, entre os 12 e os 19 quilómetros era uma fase mais rápida da prova, que passava inicialmente pela Real Fábrica de Gelo depois por trilhos com uma paisagem belíssima e pelo meio tinha também passagens por sítios sem trilho algum... O trilho era feito pelas fitas que iam marcando a direção por onde passávamos! Foi num desses trilhos que fiz uma ligeira entorse... O som do estalar assustou-me, mas acabei por nunca parar, abrandei durante uns metros mas como a dor não aumentava, antes pelo contrário, consegui voltar ao ritmo a que estávamos. Foi assim que cheguei aos 19 quilómetros, o início da terceira subida. Segundo o gráfico da altimetria esta subida assemelhava-se muito à segunda subida e no terreno isso acabou por se verificar também. Uma subida muito longa mas com uma inclinação que permitia correr praticamente em toda a sua extensão. Comecei forte, parei no primeiro terço para tomar um gel e assim que acabei de o tomar retomei o ritmo... Estava sentir-me forte e assim que faço esse segundo arranque o Pedro acaba por não vir comigo! Fiz a subida praticamente toda a correr e assim que apanhei o pessoal da caminhada e da prova dos 21kms consegui aumentar ligeiramente o ritmo, até porque a inclinação era ainda mais pequena. A partir daqui a prova estava por minha conta, se conseguisse aguentar o ritmo, ganhava, se quebrasse, estava sujeito a ser apanhado por alguém que viesse de trás... Tentei sempre meter um ritmo forte e na fase que se seguia a essa subida, uma fase praticamente a direito rolava a um ritmo à volta dos 4:30min/km que me parecia "confortável" dentro da  distância que já tinha sido percorrida. Perto dos 30kms, numa subida que não sendo muito longa era inclinada tive um ameaço de caimbra, não sei se devido ao calor que provocou uma desidratação "acelerada" se por outro motivo, mas não queria voltar a ter que parar durante 5min tal como aconteceu na última caimbra que tive em prova, no Grande Trail Serra D'Arga... Na altura ia a correr e achei por bem sempre que a inclinação fosse "exagerada", meter a passo para não me sujeitar a ter uma caimbra! O abastecimento que inicialmente estava marcado nos 32 quilómetros acabou por só acontecer aos 34. Não foi muito crítico, acabei por fazer 1000 metros sem água, mas nada que o corpo não aguentasse! Assim que cheguei ao último abastecimento dizem-me que faltam 3.4 quilómetros...  Pensei para mim que agora é que tinha que ser, tinha que dar tudo por tudo! Não queria ser apanhado e tinha que arriscar subir a correr na última e inclinada subida. Ainda fiz mais de metade da subida a correr, altura em que tive novamente os ameaços de caimbras... Não era altura de parar, estava mesmo a acabar a prova, então decidi correr até ter novo ameaço, assim que ele viesse andava a um ritmo rápido e começava o ciclo de novo! A coisa estava a resultar e rapidamente cheguei ao topo da subida. O que se seguia era um falso plano que continuava a subir mas que permitia correr com facilidade, voltei aos ritmos abaixo de 5min/km e quando vi a placa a avisar que faltava 1km foi correr com todas as forças que podia! Cheguei à meta e lá estava a comitiva dos caracóis à minha espera, prontos para festejar comigo! 


Chegada após 38kms em 3h50'

A cabeça queria festejar, mas o corpo não estava para muitos festejos, quando parei os ameaços voltaram e tive que andar na zona da chegada para a coisa acalmar. Quando já parecia mais calmo, decidi sentar-me para descansar, sentia-me cansado, os quilómetros que fiz sozinho foram todos feitos a um ritmo alto e agora o corpo queria descansar... Assim que me sentei a minha coxa esquerda teve mesmo uma caimbra! Após a rápida intervenção da minha mãe e da minha irmã decidi que a espera pelo Pedro não podia ser feita sentado, tinha mesmo que continuar de pé! Aproveitei para me hidratar e comer qualquer coisa que me permitisse restabelecer o equilíbrio possível do corpo... Aproveitei para alongar ligeiramente, conforme os músculos permitiam e após 17min da minha chegada, o Pedro Ribeiro chegou, cansado como eu, mas com um novo segundo lugar! O caracol voltava a ocupar os dois lugares mais altos do pódio, tal como em Almeirim e só faltava um para fecharmos a equipa! Após cerca de 35min da minha chegada chega o 5º classificado, o meu pai que é tipo vinho do Porto, quanto mais velho melhor! A equipa estava fechada e o primeiro lugar coletivo era nosso!

Era altura de ir festejar com o Gil no pódio dos M40 da prova dos 21kms e aguardar pela nossa entrega dos prémios. A organização entendeu por bem não avançar logo para a entrega dos prémios da prova grande o que na minha opinião acabou por ser um erro porque quando se deu a entrega, só estavam presentes os acompanhantes dos atletas desses pódios! Como tinha que aguardar aproveitei para recuperar o corpo nas massagens do Rui Seabra - Terapeuta, disponibilizadas pela organização e que assim que falei que tinha torcido ligeiramente o pé, se prontificaram a ajudar! A verdade é que já fiz três treinos depois disso e o pé está como novo, muito obrigado! De seguida fui tomar banho (de água quente) ao parque de campismo e fui almoçar juntamente com a minha equipa, no que se chama um "almoço farto" disponibilizado para todos os altetas! A organização, tirando o contra tempo da entrega de prémios, esteve bem, a mostrar-nos uma serra lindíssima, num percurso muito bem marcado e duro, sendo os abastecimentos suficientes (eu só acrescentaria o sal, que com aquela temperatura poderia ter prevenido algumas caimbras). Após o almoço avançámos então para a entrega dos prémios, demos uma volta na zona e voltámos para celebrar junto dos restantes caracóis as vitórias alcançadas! Obrigado a todos pelo apoio, que orgulho tenho em ser Caracol!!!


Pódio Geral


Pódio SenM


Pódio de equipas

Comentários

  1. Brutal! Mais uma excelente vitória, e aqui já num terreno a sério! Muitos parabéns! Grande relato, como sempre. Tens que me passar o track do percurso, vou reler o texto depois de perceber os pontos onde andaste :) Grande abraço e parabéns, venha a próxima!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

10ª Paragem 2023/2024: Primeira vitória numa ultra, Primeiro controlo Anti Doping no Trail

9ª Paragem 2023/2024: Ultra, porra!

Se conhecerem um amigo assim... Perdoem-no, ele sabe o que faz!