20ª Paragem: Cuidado com os radares!

IX Trail Noturno da Lagoa de Óbidos

Tempo: 04:02:02
Distância: 42.42kms
Classificação Geral: 15º Classificado
Classificação Escalão: 8º SenM


Antes de começar o post, fica aqui o vídeo sobre a minha prova... Espero que gostem! Se assim o entenderem comentem o vídeo ou subscrevam o canal!


Agora sim, o post:

A prova de Óbidos traz-me ótimas recordações! A vitória em 2016 foi um dos pontos mais altos da época: a primeira e até agora única vitória em provas a contar para a ATRP foi a rampa de lançamento para no final da época conseguir ser 3º classificado SenM. A verdade é que a época este ano não está a ter resultados tão bons como na anterior mas nada me tirava da cabeça que podia ir a Óbidos fazer uma boa prova! Tal como disse no último post, depois da fase menos boa que passei, os treinos estavam a voltar a "entrar" e os da última semana não tinham sido diferentes. Estava quase tudo pronto para voltar aos trilhos, excepto o material...

Desde a Estrela que me convenci que tinha que trocar de frontal, tinha um que pouca luz me dava e com um foco muito estreito. Falei com a Cláudia Ramos e o Nuno Duarte, da WildStore e a solução encontrada foi o Petzl Nao+, um frontal com 700 lúmens e com uma autonomia enorme (a review sairá mais tarde), que garantia luz na sua capacidade máxima para a prova toda. Após todo o esforço por parte da Cláudia e do Nuno para ter o frontal a tempo (obrigado a ambos), na quarta feira estava nas minhas mãos e ainda consegui fazer um treino com ele para poder fazer os ajustes necessários para a prova.

Eu e o Pedro com o grande mentor da prova, Jorge Serrazina, já com os frontais prontos!
Agora sim, estava tudo pronto e só restava seguir para Óbidos. O dia foi muito calmo, a distância da prova assim o exigia e como disse antes, queria aproveitar a prova para perceber se as sensações do treino tinham correspondência na prova. À chegada a Óbidos, fomos levantar dorsais, ver algum do pessoal conhecido que também estava a levantar e fomos jantar para o carro e equipar... Foi a partir deste momento que o foco ficou completamente virado para a prova! Por um lado sabia que os treinos tinham corrido muito bem, por outro, a falta de treinos longos dos últimos meses era um fator de preocupação... De qualquer maneira, nada como ir para a linha de partida e gerir a prova consoante as dificuldades iam aparecendo! 

Por volta das 19h30min eu e o Pedro fomos em direção ao local da partida, a praça do Castelo de Óbidos, local também da chegada. Algumas palavras da organização, palavras também sobre uma iniciativa do responsável da Microsoft na Ásia que veio de propósito correr o TNLO e por fim, estava na hora da partida "fictícia" ainda dentro do Castelo. Saímos a ritmo controlado pelo Jorge, pelo Luís Nunes e restante organização e facilmente chegámos ao local da partida real, já fora do castelo e após cruzar a estrada nacional para o lado da barragem, onde se desenrolava a primeira parte da prova. Após contagem de 5 a 0, saímos para aquela que para mim era a primeira prova do Campeonato Nacional de Trail. O ritmo inicial foi imposto pelo Luís Semedo... Um ritmo bastante alto para uma prova tão longa, mas a experiência do ano passado dizia-me que se queria estar bem, tinha que tentar acompanhar a frente da corrida o maior tempo possível e depois logo se veria. 

Durante os primeiros 2 quilómetros, fui sempre a uma distância que considerei suficiente do Semedo e foram passando alguns atletas que o queriam seguir de mais perto. Já nos 2 quilómetros, viragem à direita para um trilho que ia dar a uma ribeira... A malta que ia na frente atravessou o ribeiro e lá fui eu atrás deles, confesso que nem sequer ia a ver as marcações, só estava preocupado em manter o ritmo para não perder espaço. Quando tínhamos feito cerca de 100mts, ouvimos a malta que vinha atrás a gritar, a dizer que as fitas estavam para a direita e não para a esquerda... Voltamos imediatamente para trás, mas como tínhamos que voltar a atravessar a ribeira não me pus em aventuras de saltos, fiz a minha travessia e depois então acelerei o ritmo.  A seguir à travessia seguíamos por uma colina de relva e outra de pedra, entrávamos durante 50mts na nacional e voltávamos a entrar em trilhos! Este é o ponto onde a prova começa a "decidir-se" para mim. 

Entramos num single track muito bonito que coincide em parte com um percurso de downhill, ao lado do rio, que nos acompanha durante um par de quilómetros... Embora o ritmo fosse muito alto, o pessoal da frente acabou por se destacar e como não os conseguíamos ver, acabaram por ganhar uma grande distância. Aos 4 quilómetros quando volta a haver um estradão, volto a acelerar o ritmo mas a distância estava criada, agora restava tentar reduzi-la ao máximo! Tento entrar no ritmo do André Duarte, de Ferreira do Zêzere, que tinha acabado de passar por mim e consigo colar até chegar ao abastecimento no Louriçal, aos 8.5kms.

Passagem no Louriçal, aos 8.5kms

O ritmo ia bastante alto, eu não fazia a mínima ideia em que lugar ia, mas também não tive tempo de perguntar ao meu pai... Não precisava de trocar nada, foi só seguir e continuar a enorme subida (onde chegaríamos ao ponto mais alto da prova). Quando chegamos ao topo, uma descida relativamente grande, em estradão, com algumas depressões no terreno, onde apesar de ter posto um ritmo alto, não foi suficiente para conseguir continuar a ver o André e para não ser ultrapassado. De qualquer maneira estávamos a entrar numa zona de sobe e desce e queria aproveitar as subidas ao máximo para recuperar terreno. Mais uma passagem por um troço de downhill que obrigava a meter a passo nas zonas de maior inclinação e quando parecia que ia continuar a subir, tínhamos uma viragem à direita (muito bem identificada e marcada, tal como o resto do percurso), e seguíamos para a pista de pesca da barragem. A distância para o próximo abastecimento era grande, 10kms, e já tinha percorrido 14kms, portanto estava na hora de trocar os flasks.

A noite não permitiu grandes fotos, mas foi este o registo da minha passagem na pista de pesca da barragem
O ritmo mantinha-se muito alto e é a partir deste abastecimento que consigo ganhar pela primeira vez uma posição desde os 4kms... É a partir daqui também que as pernas começam a responder ainda melhor, as subidas já eram feitas em grande parte a correr e a direito estava a conseguir manter bons ritmos! Antes da chegada a Óbidos (onde o percurso de 21kms terminaria a sua prova), temos ainda uma subida de um troço de Downhill e uma subida ao lado da auto estrada, ambas com uma inclinação bastante acentuada e onde tento fazer a maior parte a correr... Passamos por cima da auto estrada e começamos a descer para Óbidos! Como já vou a esta prova desde 2011, identifiquei o local onde estava e percebi que dali era sempre a direito ou a descer, até ficarmos em linha com o Castelo. Assim que chegamos ao cruzamento da estrada principal, o pessoal da curta seguia em direção ao castelo e nós seguíamos em frente para depois virar à esquerda e iniciar uma descida feita em alcatrão. 
Assim que a descida termina, vemos uma grade com refletores a identificarem uma seta para a esquerda, ou seja, para um "charco" que, no mínimo, cheirava mal... Já o disse no dia da prova, os primeiros 20 quilómetros foram de longe os melhores que já fiz no TNLO, com uma beleza enorme e que permitia a quem conseguisse correr, meter grandes ritmos, mas depois chegamos ao charco e a motivação vai abaixo! A verdade é que a ribeira tem apenas 600mts mas enquanto lá estamos dentro, parece que são alguns 2 quilómetros... Foi aqui que fui apanhado pelo Rui Sequeira, companheiro durante alguns quilómetros! Fomos conversando ao longo do charco e durante os quilómetros que o seguiam. De seguida tínhamos uma subida até ao Sobral da Lagoa (24kms), local do terceiro abastecimento e voltei a ganhar terreno durante a subida! Metade da prova estava feita e mais de metade do desnível também, portanto estava na hora de acelerar definitivamente até ao fim... 

Aos poucos vou vendo frontais à minha frente e vou conseguindo alcançar e seguir. Já ansiava pela zona da Lagoa há algum tempo, já a contornei praticamente toda a correr e sabia que podia aproveitar para meter ritmos fortes! A lagoa tardava em chegar mas ainda assim os ritmos eram postos à mesma, de tal maneira que quando cheguei realmente à Lagoa, aos 32kms, já não fui capaz de o aumentar, mantive os 4'30/km que tinha vindo a pôr sempre que o terreno o permitia. Fiz dois quilómetros em que ia olhando para trás, para controlar se alguém se estava a aproximar mas ninguém estava por perto. Aos 34kms chegamos ao miradouro, local do último abastecimento... Faço a subida até ao abastecimento, volto a trocar de flasks e a partir de agora já "só" faltavam 9kms até à meta.

O terreno continua com pouco desnível... Quando saio do terreno da Lagoa a minha equipa de apoio (obrigado a todos, foram enormes!) volta a estar num cruzamento da estrada com o trilho onde iríamos entrar e é precisamente nesta fase que começo a sentir o peso dos quilómetros feitos até ali. Embora conseguisse manter a correr e a um ritmo que me parecia forte, a verdade é que os 4'30''/km estavam a passar para 4'50'' e 5'/km. Ainda assim, sempre que o terreno o permitia e as pernas também, tentava forçar o ritmo para o que vinha a fazer! Foi neste acelera/gere que apanhei o último atleta antes do último trilho a subir... Fiz a subida toda a correr, acelerei na descida para o alcatrão e fiz 70% da subida em alcatrão até à praça do Castelo a correr! 



Apesar de todo o cansaço que aqueles 42kms provocaram consegui acabar bem e satisfeito com o meu desempenho... É verdade que a classificação não foi correspondente às sensações mas a verdade é que o nível do pessoal da frente está muito alto, e 3 semanas de treino a "doer" não são suficientes para se chegar ao topo! Há que continuar a trabalhar para atingir melhores resultados!

Em relação à organização, queria dar os parabéns ao Jorge, Luís e restante equipa! As marcações estavam fabulosas, o percurso estava muito bonito... Rolante, como habitual, mas duro quanto baste (a inclusão das pistas de Downhill pareceram uma excelente ideia). Os abastecimentos pareciam muito bem apetrechados e no fim o ambiente da praça estava muito boa, apesar do adiantado da hora. Muitos parabéns a todos!

Por fim reforçar dois agradecimentos:
À minha equipa de apoio habitual (pai, mãe, irmã, namorada e restantes elementos do Caracol Trail Team)! São incansáveis, garantem que não me falta nada e dão aquele apoio "mental" como mais ninguém, muito, muito obrigado!
À Cláudia e ao Nuno da WildStore por mais uma vez serem inexcedíveis com o meu material, muito obrigado por tudo!

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