3ª Paragem 2023/2024: A Serra da Lousã no seu estado mais puro!
Trilho dos Neveiros
Distância: 31,81km
Tempo: 3h08’09”
D : 1430m
Classificação Geral: 6º Classificado
Classificação Escalão: 5º SenM
Não costumo começar os textos do blog com uma fotografia, mas vou abrir uma exceção para esta do Pedro Seiça que está, simplesmente, fantástica |
Depois dos dois testes em Sintra e em Alpiarça, chegava a hora de várias estreias nesta temporada: distâncias acima de 30km, altimetria acima dos 1200 D+ e, acima de tudo, voltar a correr numa serra que tivesse 1000m de altitude, neste caso, a serra da Lousã. Permitam-me um recuo no tempo, aos anos de 2016 e 2017, os tais que falei no último Diário de Bordo, quando fui muitas vezes à Lousã... As minhas memórias levavam-me a subidas sem fim, a grandes desníveis, a uma paisagem sempre deslumbrante (a fazer lembrar serras com maior altitude) e, até na vida animal se destacava, tendo assistido a várias “incursões” de veados durante as horas que por lá passava. Foi com a expectativa elevada que me inscrevi nesta prova, faltava ir lá e comprovar que ainda era assim.
A preparação correu muito bem, a evolução era notória e, tirando a chuva, a motivação era grande para ir para a prova. A chuva era um fator que, em tempos, me deixava bastante incomodado, ao ponto de me deixar de pé atrás em relação à realização ou não de provas, mas a verdade é que, nas últimas semanas já tinha feito várias sessões à chuva e não estava a ser a inimiga que outrora foi. De qualquer maneira, estava metida e estava, portanto só tinha que partir e ir ajustando ao longo da prova o que tivesse a ajustar. Saímos cedo de Torres Novas e chegámos uma hora antes ao local. A comitiva do caracol era bastante grande portanto era hora de levantar todos os dorsais, equipar e fazer um mini aquecimento para a partida. Se as duas primeiras tarefas correram lindamente, a terceira acabou por ser adiada até ao último segundo. A chuva estava a cair forte e já estava a ver que ia ter a sua companhia durante os 30 quilómetros de prova. 10 minutos antes da prova começar, não havia nada a fazer: "Boa sorte" para a equipa, um beijinho à Inês e segui para dar uma mini corrida e ir até à linha de partida.
Caracol Trail Team alinhado para a partida |
O “alinhamento” da prova estava muito bem composto por pessoal que está a andar muito bem a nível nacional e internacional, o que dava uma perspetiva completamente diferente em relação às outras provas em que participei. De qualquer maneira, não era tempo de fazer grandes previsões, seria com a prova em andamento que se fariam as diferenças e, assim, depois de uma contagem decrescente de 0 até 10 saímos de Pera para os Trilhos do Neveiro.
Os primeiros quilómetros desenrolavam-se numa ligação entre a aldeia de Pera e a aldeia do Coentral, num percurso que seguia praticamente sempre trilhos a contornar a linha de água que seguia a boa velocidade no sentido inverso ao nosso. Embora a altimetria fosse já um fator bem presente (cerca de 200 D+ em 5km), esta ainda não era extremamente acentuada e, o facto de o ritmo ainda não ir muito intenso, fez com que fizesse os primeiros 3 quilómetros com o pessoal que supostamente seguiria na frente. Primeiros quilómetros feitos, deixamos a linha de água para trás e entramos num estradão onde se começam a sentir as primeiras grandes inclinações… O grupo da frente (das provas longa e curta) segue a um ritmo forte e eu decido ficar no meu ritmo e ver onde me poderia encaixar. Os primeiros 100m acabei por perder um pouco mais do que aquilo que queria.. Sei bem que não estou a subir como pretendia, mas não podia deixar fugir o grupo dos “perseguidores”. Forcei um pouco mais, consegui manter a distância e fiz a passagem no Coentral pouco depois desse mesmo grupo.
Passagem no Coentral, aos 5km |
E, se a prova já tinha dado um cheirinho do que era subir, aqui entramos nas memórias que falei no início do texto, as subidas intermináveis. Descrever a subida que liga o Coentral aos Neveiros de Santo António da Neve é algo que, por muito que tente, nunca vai sair justo em relação à grandeza que por lá se encontra, mas aqui vai: o caminho é feito de pedra, um carreiro onde só passa uma pessoa, com socalcos que nos obrigam várias vezes a levantar bem os joelhos; A vista à nossa esquerda é deslumbrante, nem o nevoeiro nos impedia de ver as escarpas que se encontravam pelo vale ao nosso lado; O cenário invernoso tornou tudo ainda mais belo… A água corria como se de um ribeiro se tratasse e, se a minha relação com a água não é propriamente amigável, dava aquela subida uma característica mágica, como a serra onde ela está, que dificilmente esquecerei. A verdade é que adorei aquela subida e, quando tiver oportunidade, terei que lá voltar. Mas regressemos à prova. A subida foi feita à imagem daquilo que se passou entre os 3 e os 5km. Uma fase inicial a arriscar pouco mas, aos poucos, fui tentando correr durante mais tempo e, na fase final, só nos socalcos de maior dimensão é que metia mesmo a passo. Acabei por chegar ao Jorge Soares mesmo junto ao santuário dos Neveiros e com ele fiz a descida até à entrada da subida do Trevim.
O ritmo ia alto quando não era a subir (o que até ao momento ainda não tinha acontecido muito), mas as zonas técnicas ainda não estão muito rotinadas. O foco da preparação até ao momento passou por recuperar rotinas de treino perdidas há uns meses, recuperar hábitos do trail perdidos há uns anos e a parte da técnica ainda não está como eu quero que esteja. Por isso, as descidas que se seguiram entre o Santuário de Santo António da Neve e os 15km (local de separação de provas) tiveram todas uma característica em comum na minha prova: perdi terreno para quem estava mais próximo. Não me entendam mal, adorei correr naqueles trilhos, mas as constantes entradas e saídas dos trilhos (para evitar meter o pé em poças que não conhecia o fundo) e os saltos em degraus que o terreno foi ganhando com a chuva estavam a atrasar-me substancialmente e, foi assim que perdi o Jorge (da longa) e o Nuno Coelho e o Gonçalo Fernandes (da curta), acabando por ficar o Samuel Reis em linha de vista. Passei no abastecimento dos 15km onde acabei por só trocar um flask e segui caminho... A partir daqui a subida estava quase toda feita (já estavam perto dos 1000 D+ e só faltavam 400 D+), o terreno ia alternando entre o rolante (em zonas mais a direito) com o técnico (em especial numa das descidas que fazíamos após fazermos uma travessia de caminho e contornávamos uma casa) e isso ia-me favorecendo perante o Samuel e, aos poucos, fui-me chegando. Numa das poucas zonas de estradão acabei por ultrapassar e assumi o 6º lugar da prova, que nunca mais abandonei. Aproveitei o estradão para meter um ritmo forte e tentar logo afastar-me, o que acabou por acontecer e a subida que se seguiu serviu para aumentar ainda mais a distância, pelo menos pelo que me ia apercebendo ao olhar para trás. Com esta subida na classificação segui só com o foco de me poder aproximar o máximo possível dos dois que seguiam à minha frente. As subidas eram feitas no melhor ritmo possível, que já não tinha a frescura do início da prova e as descidas eram feitas a tentar perder o mínimo possível e foi assim que cheguei ao último abastecimento da prova, pouco antes da junção das provas. O ritmo ia alto, optei por não trocar nenhum flask nem comer nada, a meta estava demasiado perto para fazer mais uma paragem. Iniciei a descida final (com uma pequena travagem para assistir a dois veados a cruzarem o caminho enquanto desciam o monte, provavelmente assustados com o barulho do evento), mantive o ritmo alto enquanto consegui e, após 3h08' de prova, cheguei à meta dos Trilhos do Neveiro.
Últimos metros da prova, a chegar a Pera |
Sobre a minha prova pouco há a dizer: uma felicidade enorme de regressar a uma prova de trail nesta Serra da Lousã, subidas exatamente como eu gosto de as fazer e uma noção clara, que já tinha previamente, que o trabalho ainda agora está a começar.
Sobre a prova e a organização vários pontos positivos e só um a melhorar:
+ Percurso fenomenal (voltarei a utilizar este track em treino), um enorme cuidado com o bem estar do atleta (a preocupação dos banhos e o banquete final disso são prova) e uma vontade gigante de querer ser melhor (vários elementos no final me perguntaram se tinha corrido bem e o que havia a melhorar);
- Não me perdi, mas em certos pontos tive que parar à procura de nova fita. Bem sei que a meteorologia não ajudou, mas há sítios em que tem que existir uma maior colocação de fitas (mudanças de direção e single tracks). Na próxima edição não tenho dúvida que estará melhor.
Os meus parabéns à organização e um muito obrigado pelo trabalho que tiveram a levantar este percurso.
Agora vamos ao trabalho que a próxima prova já está metida e só o trabalho interessa.
Obrigado por estes bocadinhos... Como praticante casual deste desporto, fazes me sentir na prova, com estes relatos espectaculares.
ResponderEliminarAbraço e boas provas
Até me emocionei a ler... Sendo natural deste cantinho da Serra da Lousã, é um orgulho enorme houvir falar bem, tanto da Serra da Lousã e desta vertente do sopé sul, como da prova e da organização em si.
ResponderEliminarForte abraço e continuação de boas corridas. Algo que necessitem ou dúvidas, disponham!
Uma leitura brilhante! Sua postagem é perspicaz e bem elaborada. Agradeço por compartilhar sua valiosa perspectiva.
ResponderEliminar