10ª Paragem 2017: Piodão, a aldeia mágica!
Ultra Trail do Piodão
Tempo: 05:09:53
Distância: 49.25kms
Classificação Geral: 15º Geral
Classificação Escalão: 8º SenM
Esta para mim é a foto da prova (Obrigado Bernardete Morita)... 42kms, o desgaste era enorme e parecia que o mais complicado estava feito, mas só parecia mesmo |
Em 2015 desloquei-me ao Piodão para fazer aquela que nesse ano era considerada como a prova "outsider" do Piodão Ultra Trail... A prova curta fazia parte do Campeonato Nacional de Trail mas como na altura não estava muito para aí virado, decidi arriscar-me numa das mais duras provas do calendário nacional fazendo assim um teste final à máquina para o Ultra Trail de São Mamede. Na altura fiquei completamente deslumbrado com a prova... Ficou logo marcada como uma prova que queria muito repetir e onde queria testar a minha própria evolução. Não sabia quando nem em que circunstâncias, mas sabia que iria regressar.
Final da edição de 2015, com o meu mano mais velho, em 6º e 7º da geral |
Não vou mentir, apesar da dureza, este é o meu tipo de provas... É aqui que consigo fazer uma maior gestão, é aqui que sinto que vou até aquele exato momento antes de quebrar, é aqui que sinto uma alegria enorme de poder correr nos trilhos! É também aqui que sinto o treino a ter efeito nas subidas intermináveis, que consigo delinear uma exata estratégia para fazer as descidas sem forçar demais, é aqui que posso vivenciar o melhor que a montanha tem para me dar.
A preparação desta prova foi basicamente o seguimento daquilo que tinha vindo a fazer nos dois primeiros meses mas desta vez (março) com alguns quilómetros a menos... Não era nada significativo mas ninguém gosta de falhar aos treinos planeados! Há que aprender com os erros e evitar ao máximo que se voltem a repetir. A semana anterior, apesar de ter começado de forma intensa, foi diminuindo de intensidade e cheguei a sexta feira com a completa sensação de dever cumprido e pronto para mais este desafio. Os meus pais saíram logo na sexta a seguir ao almoço para uma nova incursão do meu pai em provas de circuito fechado (100kms de Lousada) e foi só preparar tudo para a minha prova e ir descansar. Já no sábado juntei-me aos restantes caracóis e seguimos para o Piodão... O tempo ia contado para não chegar demasiado em cima da hora mas também não demasiado cedo, ou seja, o facto de termos ido dar uma volta à Benfeita (sem querer, claro) acabou por nos atrasar e deixar muito em cima da hora. À chegada à aldeia do Piodão já o estacionamento estava crítico, foi deixar no ponto mais em baixo possível, seguir para o largo da aldeia levantar dorsais, voltar para o carro e equipar...
Após o levantamento dos dorsais, com o tempo a começar a apertar |
Quando chegámos à linha de partida e após o controlo 0 faltavam apenas 3 minutos para a partida! Foi chegar o mais à frente possível e aguardar pela contagem decrescente do Eduardo para arrancar mais uma prova do Campeonato Nacional de Ultra Trail.
Pela primeira vez este ano não me consegui posicionar na " linha da frente" e consequentemente andei sempre perdido em relação à minha classificação. Isto foi logo perceptível nos primeiros metros da prova, ainda dentro da aldeia do Piodão onde fui tentando chegar-me o mais à frente possível, acabando por entrar no single track que nos levava ao primeiro abastecimento (5kms) ligeiramente atrás dos atletas com quem andava a disputar os lugares nas últimas provas do Campeonato Nacional de Ultra Trail. Ainda assim o facto de ter esses atletas em linha de vista deixava-me mais descansado, até porque sabia bem o "calvário" que viria a seguir. Algumas centenas de metros antes do abastecimento inicia-se a primeira subida... São 4 quilómetros com 600mts de D+! Uma estrada que vai em constantes s's e onde dá para ir acompanhando tanto quem está à nossa frente, como quem está atrás! Rapidamente se forma um grupo onde vou inserido com alguns atletas conhecidos: eu, o Nuno Fernandes, o Nuno Paiva, o Rodrigo Noivo, o Nuno Torres e ainda apanhamos o Amândio Antunes antes de chegar ao topo da subida. Apesar de muito longa e dura, esta subida foi-me deixando cada vez mais feliz... Estava a conseguir manter um ritmo certo, punha a passo nas zonas mais inclinadas para evitar o desgaste precoce mas de resto estava a sentir-me bem! Faço a ponta final da subida mais forte (era menos inclinada) e passei para a frente do grupo mas foi uma situação muito curta no tempo, até porque de seguida começava a primeira descida da prova e a extensão da subida anterior não diferia muito da extensão da descida. Meti um ritmo ligeiramente acima do confortável para as minhas descidas e tentei minimizar o tempo que estava a perder para uma parte do grupo que passou à minha frente e do Nuno Paiva que seguia comigo. Mesmo antes de chegar à aldeia do segundo abastecimento (14kms), parte desse grupo já seguia por uma subida em escadas, sendo que o caminho era para a esquerda, para dentro da aldeia... O Nuno reparou, avisou (obrigado, se não fosses tu, lá ia eu atrás deles) e seguimos para o abastecimento.
Chegada ao segundo abastecimento, com o Nuno Paiva |
Assim que lá cheguei a comitiva de caracóis já estava pronta para ajudar e foi só encher o flask e seguir novamente caminho com o Nuno. Apesar da "pit stop" ter sido bastante rápida foi aqui que senti maiores diferenças em relação às provas anteriores, ter alguém num abastecimento pronto para nos dedicar toda a atenção, onde só é preciso pegar nas coisas e seguir é um ponto fundamental para se poupar muito tempo! De qualquer das maneiras, isto não era possível e não me restava mais nada a não ser perder o mínimo tempo possível e seguir caminho... Assim que saíamos da aldeia iniciava-se a segunda grande subida da prova que tinha característica bem diferentes da primeira: uma fase inicial muito inclinada em direção às antenas eólicas e uma zona com menor inclinação num estradão ao lado das antenas. Apesar de ser uma subida contínua tentei abordar cada uma das partes de maneira diferente: a primeira, tentei meter um ritmo a passo o mais rápido possível para assim que atingisse as antenas poder meter um passo de corrida certo e chegar-me novamente à frente do grupo que se ia afastando e aglutinando consoantes as adversidades que iam aparecendo. A subida voltou a correr bem, voltei a acabar forte e estava a sentir-me com forças para o que faltava da prova e isso ia-me deixando cada vez mais motivado. O ponto mais alto desta subida era o Picoto da Cebola e assim que o atingimos, inicia-se mais uma longa descida... A fase inicial é feita em estradão largo e fácil, meto um ritmo confortável e logo passa o Amândio e o Nuno Fernandes por mim sendo que os restantes elementos acabam por também se chegar a mim e começam a ultrapassar. Tento colar no ritmo deles e assim chegamos ao final desse estradão. Seguimos em frente no cruzamento e logo a seguir viramos à direita para uma das descidas mais inclinadas da prova. Consigo "encabeçar" o grupo e sair na frente da descida, faltando voltar a alcançar o duo que me passou na primeira fase. Após a descida iniciámos um troço em alcatrão onde conseguimos ver os atletas que estão à nossa frente... Percebo que além desse duo também o Marcolino Veríssimo está "logo ali" à frente, e o objetivo passa a ser tentar alcançar os atletas que estão na minha linha de vista. Foi assim que cheguei ao terceiro abastecimento, a Joana Esperanço bem que puxou por mim, mas tinha aquele objetivo de para o mínimo possível no abastecimento e estava completamente focado nisso... Desculpa nem ter agradecido.
Chegada ao terceiro abastecimento |
Apesar de não ter apoio da equipa por lá, consegui ser rápido, voltei a encher os flasks e segui viagem, conseguindo até seguir no grupo do Amândio Antunes mas o Nuno Fernandes só o vi ao longe... Após este abastecimento tínhamos uma ligeira descida para sair da aldeia e iniciávamos a terceira subida. Ou pelo menos, o primeiro troço dela, porque esta primeira fase feita em estradão e de seguida em alcatrão era feita a subir, depois tínhamos uma descida técnica mas curta e voltávamos a subir para o quarto abastecimento. Vamos por partes: a primeira fase ainda ia o grupo praticamente junto embora o Miguel Martins (veio de trás) e eu fossemos ficando ligeiramente na cauda do "pelotão"... Na passagem para o alcatrão ainda os vejo e consigo aproximar-me ligeiramente do grupo com o Miguel a ficar ligeiramente para trás. Na fase da descida técnica tentei descer rápido mas de maneira a que os impactos dos saltos não fizessem estragos mais tarde na prova... O grupo da frente deixei completamente de o ver e o Miguel ficou logo colado a mim outra vez. Faço a subida para o abastecimento e lá está novamente a comitiva do caracol. Tento ser o mais rápido possível, aproveito a ajuda deles e saio com o Amândio que entretanto tinha ficado mais tempo no abastecimento e antes do Miguel.
Subida antes do abastecimento |
À saída do abastecimento encontro um ícone dos trails nacionais, Jorge Serrazina, a puxar por mim, obrigado Jorge. Foi com esta força que iniciei o ataque à parte final da terceira subida: unm troço com uma inclinação brutal, com um cansaço nas pernas acumulado e com uma distância considerável... Tinha tudo para "acabar" com o que ainda restava das forças dos atletas. O Miguel acabou por me passar a meio do troço, ainda tentei ir com ele, mas apesar de irmos os dois a passo, ele ia mais forte! Tento fazer como nas outras subidas, acabar mais forte mas a dureza desta subida não o permitia. Tive que esperar pelo final da subida para juntamente com o Amândio Antunes voltar a meter ritmos mais fortes. O caminho a partir daqui tomava uma toada diferente... Menos desnível, terreno misto (tanto andávamos a subir em alcatrão, como a subir, em plano e a descer em estradão como a subir em "cascalho") e uma alternância grande de classificações. Fui passado e passei vários atletas até que chegámos à subida final para o Culcurinho onde mais uma vez, conseguíamos ver os atletas à frente e atrás... Parecia que estávamos mesmo a tocar neles se esticássemos a mão mas afinal eles estavam a uma distância significativa. Ainda assim acho que esta foi uma boa subida para mim, consegui manter um ritmo constante... A andar, mas acabei por chegar junto ao Miguel mesmo no momento em que o Nuno Fernandes tinha arrancado e com o Amândio Antunes e com o Nuno Torres (só tinha andado com o nosso grupo na primeira subida) para trás de mim.
Chegada ao Culcurinho, mesmo antes da primeira foto do post |
Assim que saímos do abastecimento iniciámos a descida mais longa da prova... Inicialmente numa fase mais técnica deixo o Miguel para trás mas mesmo quando estou a chegar à fase final deste troço, passa o Amândio. Já tinha visto este filme em Vila de Rei e tentei colar para fazer o resto da descida. Assim que iniciamos a fase seguinte, uma zona menos inclinada e em estradão, percebo que os ritmos que estão a ser impostos são muito, muito altos e ainda me lembrava bem da parte final da descida e da subida para o Piodão em 2015... Decido ficar para trás e tentar no fim fazer a diferença! Enquanto estou no meu ritmo (que apesar de controlado era abaixo de 4'/km) oiço o Nuno Torres a aproximar-se e tão depressa como se aproxima, vai embora. Senti claramente que não estava em condições para meter aqueles ritmos e sigo nos meus 3'50''/km... Entro no terceiro troço da descida (mais técnico, embora não em demasia) ainda a ver o Nuno mas o medo de dar muitos saltos que pudessem ter danos musculares fez com que continuasse num ritmo controlado. Assim cheguei ao último abastecimento, em Foz de Égua... Chego, tomo sal e sigo, tinha os flasks cheios ainda do abastecimento do Colcurinho e não precisava de mais nada, afinal eram só 3kms. Assim que saio, olho para o final da descida e lá vem o Miguel. Aparentemente tinha feito a descida controlada como eu mas eu estava à espera de ainda ter forças para no final conseguir fazer a diferença. Enquanto vou avançando no single track vou olhando para trás e não vem ninguém mas quando já só faltavam dois quilómetros para chegar ao Piodão começo a ver que a distância é cada vez menor... Tento apertar o ritmo e de repente vejo o grupo que ia à minha frente quase todo junto, o Nuno Torres, o Nuno Fernandes e o Amândio Antunes à minha frente 150mts e o Miguel estava 50mts atrás de mim. Passamos um portão, continuo a apertar o ritmo para evitar que o Miguel se aproxime mais e assim que entramos dentro da aldeia do Piodão o grupo da frente "dispara" para disputar os lugares... Passo pela Maria Antonieta, ela incentiva-me e eu desabafo para ela "ele vai-me fazer a folha". Ela diz que falta menos de um quilómetro (o meu sincero obrigado) e foi a partir dali que era o tudo ou nada. Tentei arrancar o mais forte possível e esperar que não rebentasse até à meta... A distância voltou a aumentar para o Miguel e até acabei por ver o Amândio a cortar a meta.
A passar o pórtico de chegada |
Após passar o pórtico, agarro-me aos joelhos, tento recuperar a respiração, recuperar deste "arranque desesperado" e falar com o João Fernandes, que tinha ficado pelos 32kms... Melhores dia virão, companheiro! Aos poucos lá vou voltando, vou falando com os caracóis da prova pequena e vou regressando... O Tiago Teixeira ainda meteu conversa comigo, mas não estava em grandes condições de falar (o cansaço toldava-me o pensamento), desculpa Tiago. A partir daqui foi esperar pela restante caracolada que ia chegando com grande prestações... Parabéns Pedro Ribeiro, Crispim, Carlos, Gaio e Gil, este 4º lugar que alcançámos é de todos nós!
O balanço final, a nível de resultado pessoal, deixou-me um sabor agridoce... Por um lado fiz um tempo melhor do que estava à espera mas por outro lado, estava à espera que este tempo resultasse numa melhor classificação! Não quero com isto passar uma imagem de "só eu é que treino" mas chegamos a um ponto em que metemos tanto de nós nos treinos que fazemos que estamos sempre a querer mais e mais e mais... Tal como falei com o meu pai, tenho que continuar a trabalhar, mais e melhor para os resultados serem ainda mais aqueles que desejo! Resta-me só dar os parabéns ao meu pai pela fantásticas 9h nos 100kms de Portugal, que enorme prova!
Em relação à organização, não tenho mais palavras para o Mundo da Corrida! Já sou cliente desde 2011 e não me canso de elogiar... Um percurso ótimo, muito duro, com paisagens do mais belo que há (só a chegada ao Piodão, com aquela cadeia montanhosa à volta mete respeito), abastecimentos com muita quantidade e qualidade, foi perfeito! Mais uma vez, parabéns Associação o Mundo da Corrida!
Parabéns Tiago magnífico relato.
ResponderEliminarMuito obrigado Brito :)
EliminarÉ ir recordando e ir escrevendo :)