11ª Paragem 2017: De volta à corda no pescoço

IV Cork Trail Running

Tempo: 02:00:15
Distância: 23.18kms
Classificação Geral: 4º Classificado
Classificação Escalão: 4º SenM

Para mim esta é a foto da prova... O momento em que o corpo decidiu que era para "esticar"! Obrigado pela foto, Diogo Roquete.


O Ultra Trail do Piodão deixou marcas... Foram muitos quilómetros, com muito desnível positivo, subidas enormes e descidas ainda maiores. A recuperação apesar de ter sido relativamente rápida (na segunda já estava de volta ao registo "normal" de treinos), ainda sentia bem as mazelas nas pernas e restava esperar pelo desenrolar da semana para ver como me apresentaria na prova do fim de semana. Durante o planeamento da "época" surgiu a oportunidade de fazer uma prova rápida, relativamente perto de casa e que permitia fazer um treino mais competitivo sem prejudicar a recuperação... O Cork Trail aparecia como um ótimo teste quer a nível de velocidade quer de recuperação competitiva.

Como a prova era relativamente curta para os habituais treinos de domingo acabei por ir conhecer Sintra com o Pedro Crispim na quinta, um treino curto com algum desnível e que deu para perceber que o corpo estava a recuperar a um bom ritmo. A partir daí até domigno acabou por ser só rolar e cheguei a domingo a sentir-me confiante para a prova que tinha como aliciante adicional ser a primeira prova de apuramento para a Lacatoni - Taça Nacional de Trail da zona centro.

Após uma viagem algo conturbada (a Vila de Erra só tem um acesso por asfalto, indo a Coruche e o meu GPS decidiu que ir por terra era melhor), lá chegamos ao local da prova... Foi equipar, aquecer ligeiramente (não era difícil antever uma partida forte) e seguir para a linha de partida. A concorrência era "feroz". 3 dos melhores atletas nacionais, Fábio Fontoura, Luís Semedo e Tiago Romão faziam com que o objetivo de fazer pódio fosse muito difícil, mas não era por isso que deixaria de o tentar.

Momentos antes da partida, focado nos 23kms que se seguiriam

Após umas breves palavras do Hugo Água iniciou-se a contagem decrescente de 10 até 0 e iniciámos a prova... O ritmo inicial não foi demasiado alto, mas gradualmente foi subindo e ao fim de 500mts já seguia um grupo que viria a compor maioritariamente o top 10, grupo este que era encabeçado pelo Fábio e pelo Semedo que viriam a lutar pela classificação geral até à linha de chegada.
Grupo da frente após 500mts

Tentei seguir na cola deste duo mas foi sol de muito pouca dura... Assim que o terreno inclinou as minhas pernas não me permitiram acompanhar os ritmos impostos e acabei por ficar ligeiramente para trás. Assim que apanhamos uma autêntica parede (menos de 300mts de distância mas obrigou a pôr "a passo"), esse duo acabou por ficar ainda mais destacado, o Tiago Romão passou por mim e seguiu logo na perseguição e eu segui logo atrás. Tentei meter ritmos altos sempre que não houvesse desnível e um ritmo controlado a subir... Foi assim que consegui fazer uma ótima época em 2016 e queria ver se o corpo ainda respondia bem, principalmente agora que a forma estava a voltar. Fomos mantendo uma distância constante mas aos 2.7kms acabamos por apanhar a subida mais longa da prova e o trio da frente dispara. Fico eu e o João Freire na perseguição durante a subida e é assim também que chegamos aos 3.4kms, local onde o terreno fica plano e voltamos a meter ritmos altos.

Eu e o João na perseguição ao trio da frente

Ele acaba por se destacar de mim ligeiramente e chegamos a uma zona de btt, um local de sobe e desce constante mas que ao contrário de muitos percursos de btt onde passamos em provas de trail, nos permitia percorrer uma grande área, sem ter a nítida sensação que estamos sempre no mesmo sítio! Parabéns pela escolha do local! É durante esta fase que passo pior, ou melhor, que os restantes atletas passaram muito bem... O João acaba por seguir com o Carlos Pacheco, que veio de trás e seguiu logo, tendo eu optado por meter o meu ritmo e aguardar pelo final da prova onde normalmente sou mais rápido. Mesmo no final desta zona de btt oiço o Pedro Pinheiro a aproximar-se e aos poucos lá me conseguiu alcançar. Após esta zona iniciamos um caminho por trilhos muito bonitos, uma zona mais plana que acabou por não durar muito, voltando logo a entrar numa zona de sobe e desce constante... Fui assumindo as despesas deste duo, e ia metendo um ritmo forte, sabia que o João e o Carlos iam fortes na frente, mas achava que ainda tinha uma palavra a dizer.

Eu e o Pedro Pinheiro numa das descidas que marcava este sobe e desce

Já perto dos 15kms vemos o abastecimento no cimo de mais uma subida curta mas dura, lá demos a volta ao monte, aproveito para tomar o gel que levava e chegámos à tenda onde tínhamos muito material para abastecer. Como é normal nestas provas curtas não comi nada, acabei por agarrar em dois copos para encher o flask de maneira a dar-me até ao fim da prova e quando olhei à volta para saber onde andava o Pedro, ele já tinha saído... O Diogo Roquete indicou-me o caminho (obrigado, deu para seguir logo no encalço), vi o Pedro mesmo a chegar ao fim da descida e lançei-me para o tentar voltar a apanhar.
Chegada ao abastecimento, o único onde parei

Assim que meto esta aceleração o corpo responde imediatamente, logo no início da subida seguinte consigo alcançar o Pedro e como estava a sentir-me tão bem resolvi manter aquele andamento e ver no que dava. Consegui ganhar logo alguma vantagem e mantive o máximo possível... É nesta fase que começamos a apanhar com mais frequência os atletas das provas mais pequenas, quase toda a gente se vai chegando para o lado para passar (a falar nisso, eu percebo que o pessoal goste de ouvir música enquanto corre, mas não precisam de ouvir tão alto ao ponto de deixarem de ouvir o que está à vossa volta, não ouvindo quem pede para passar) e consigo manter o ritmo alto. À medida que vou avançando vão dizendo o atraso que levava, e estava cada vez a diminuir mais... Sentia o corpo cada vez mais forte e isso ia dando mais motivação! 

Não consigo precisar onde foi esta foto, mas como já estávamos com o pessoal da pequena, foi nos últimos 8kms da prova.

Quando ia a chegar aos 20kms vejo o Carlos Pacheco, volto a colar e seguir... Estávamos no início de uma subida logo após passar pela aldeia e quando cheguei ao topo já não sentia o Carlos atrás de mim, forcei ainda mais para não ser apanhado na descida e mesmo antes de nova subida curta, vejo o João Freire, ele estava a fazer a subida a andar e eu sigo a correr... Ele arranca imediatamente atrás de mim e durante a primeira subida ainda vem comigo! Não queria deixar esta luta para os metros finais, ele é novo como eu e a luta ao sprint poderia ser tremenda portanto tinha que fazer a diferença ainda durante a fase de sobe e desce. Na segunda subida que era bastante inclinada mantenho um ritmo forte, sempre a correr e quando chego ao topo da subida já não sinto o João. Logo após a subida olho para o relógio e vejo que falta um quilómetro... Olho para trás para verificar que o João não estava mesmo ali e arranco em direção à meta. Rapidamente chegámos à entrada da aldeia, vejo o ritmo a que estou e vou abaixo de 3'30/km, o corpo estava mesmo em altas e a meta estava mesmo quase ali, não podia baixar o ritmo. Após uma curva à direita vejo a comitiva do Caracol à nossa espera, olho para trás e não vem ninguém. Assim que o Hugo Água me vê, anuncia-me ao microfone e corto a meta... O comércio e indústria fechou logo a equipa e depois começava a nossa guerra, rapidamente chega o Gil e logo depois o Hugo Neves, que ótima prova dos dois, parabéns! Fechamos a equipa e garantimos o segundo lugar coletivo! Parabéns a todos, família caracol!

Pódio coletivo

A nível pessoal, aqueles 8kms finais foram fenomenais, senti-me muito bem, o corpo queria puxar mais e mais... Já não estava habituado a ter a corda na garganta e foi difícil meter ritmos muito altos inicialmente mas o corpo lá acordou e ainda fui a tempo de ir buscar o quarto lugar tendo ficado a dois minutos do Tiago e a 10 minutos do duo da frente! Não foi perfeito mas já está muito mais perto daquilo que quero fazer. Agora é aguardar por sexta, última prova de uma série de 3 em 3 fins de semana para depois voltar aos treinos intensos.

Pódio da geral
Para terminar, resta-me falar da organização e para resumir o seu trabalho só tenho uma palavra: irrepreensíveis! Desde o trabalho inicial, com a apresentação e a turtúlia que fizeram com alguns dos melhores nomes nacionais, ao cuidado em levar a esta prova atletas "sonantes", passando pelo momento da prova onde tudo estava perfeito, desde marcações, abastecimentos e um cuidado extremo com os atletas até ao momento final da entrega de prémios onde cada atleta saía de lá com as mãos cheias, estiveram fantásticos! O Cork Trail fica claramente no meu calendário, obrigado por tudo aquilo com que presentearam os atletas!

No final da prova a ser entrevistado pelo Hugo, até parecia um atleta

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